17 Jul 2021 2:43
Face ao filme "France", não podíamos estar mais de acordo com a indignação do seu realizador Bruno Dumont. A personagem de France de Moeurs (cujo simbolismo convoca, inevitavelmente, o seu próprio país, França) é uma vedeta mimada de notícias de um canal fictício, nessa medida servindo, de facto, de sintoma dos vícios correntes de alguma informação televisiva — para lá dos truques da fama, alimentados por um "social" profundamente desumanizado, o seu labor é vivido menos como uma observação de factos e mais como uma encenação de notícias…
E, no entanto, "France", para lá do seu desagradável cinismo, é no plano cinematográfico um dos objectos menos interessantes da competição do 74.º Festival de Cannes. Dir-se-ia que se trata apenas de acumular sugestões mecânicas, repetitivas e demagógicas sobre o espaço televisivo, sem outra perspectiva que não seja a banal proliferação de caricaturas grosseiras.
O filme dispersa-se mesmo numa variedade gratuita de registos, reveladora da inconsistência do seu plano narrativo. Passamos, assim, da tragédia em suspenso para momentos de humor (?) que dispensam a caracterização minimamente coerente de cada personagem. Como se bastasse ridicularizar a televisão para compreender e denunciar os elementos e efeitos das suas linguagens.
Desastre habitual neste género de projectos: o massacre dos actores, perdidos no meio da confusão, sem saberem como sustentar as suas "pobres" personagens — Léa Seydoux, na figura central, é a mais prejudicada, apesar (ou precisamente por causa) do seu esforçado trabalho de composição.