24 Out 2021 22:12
O tema da depedência do álcool pode ser encontrado em todas as épocas do cinema. É universal, mas envolve necessariamente muitos particularismos decorrentes das épocas em que cada história se situa ou foi produzida. Vale a pena revisitarmos "Escravos do Vício", título de 1962 assinado por Blake Edwards, quanto mais não seja para dizermos que Blake Edwards não foi apenas o cineasta dessa deliciosa paródia policial que é "A Pantera Cor de Rosa…
Dois anos antes, Edwards tinha dirigido "Boneca de Luxo", ou seja, o lendário "Brekfast at Tiffany’s", com Audrey Hepburn e música de Henry Mancini. Aliás, Mancini foi uma espécie de assistente musical de Blake Edwards, sabendo pontuar a diversidade dos seus temas com bandas sonoras de admirável variedade e versatilidade. No caso de "Escravos do Vício", expondo a sedução e também o desencanto desses “dias de vinho e rosas” a que se refere o título original — "Days of Wine and Roses".
Não é fácil resumir "Escravos do Vício", já que não se trata exactamente da história de um casal que tem a sua vida virada do avesso por causa do álcool… Em boa verdade, toda a sua existência está ligada a um contexto em que a bebida funciona como uma componente da própria identidade, primeiro através da dependência do homem, a pouco e pouco contaminando a mulher — da vida profissional à vida íntima, tudo se desmorona.
Jack Lemmon e Lee Remick são admiráveis na exposição dessa instabilidade e, mais do que isso, na encarnação de um sofrimento que se instala num misto de ilusão e assombramento. Ambos foram nomeados para os Óscares, embora não tenham ganho. Seja como for, "Escravos do Vício" ficou como uma referência fulcral de um cinema americano que, no começo dos anos 60, a par das novas vagas de vários países europeus, estava a alargar as suas temáticas e também a diversificar as suas formas narrativas. Para a história, o filme de Blake Edwards ficou também como inspiração para um tema muito popular de Bill Withers — de facto, foi depois de ter visto "Days of Wine and Roses" que escreveu aquela que é, por certo, a sua canção mais popular: "Ain’t no Sunshine".