2 Jan 2022 0:31
Face ao filme mais recente de Paul Schrader, "The Card Counter – O Jogador", talvez seja útil lembrar o mais óbvio, tão óbvio que é quase sempre esquecido. Ou seja: ele é uma figura central na história do cinema americano do último meio século. E quando digo a história do último meio século estou a pensar, antes do mais, no livro "O Estilo Transcendental no Cinema", sobre três cineastas clássicos (Ozu, Dreyer e Bresson), que ele publicou em 1972. De qualquer modo, foi em 1976 que o seu nome adquiriu um peso decisivo no interior de Hollywood, graças ao argumento de "Taxi Driver"
Colaborando com Martin Scorsese em "Taxi Driver", Schrader afirmava o seu génio de narrador, estreando-se na realização dois anos mais tarde, portanto em 1978, com "Blue Collar", um retrato invulgar de um grupo de trabalhadores do Michigan. De qualquer modo, foi em 1980 que assinou aquele que continua a ser, muito provavelmente, o seu filme mais conhecido, "American Gigolo" — o seu emblema musical era a canção "Call Me", dos Blondie.
Depois, encontramos na filmografia de Schrader títulos tão contrastados como "A Felina" (1982), refazendo o clássico de terror "A Pantera" (1942), ou "Mishima" (1985), um retrato trágico do escritor japonês — era também uma notável proeza musical, com a banda sonora original a cargo de Philip Glass.
Embora tenha assinado mais dois argumentos para Scorsese — "Touro Enraivecido" (1980) e "A Última Tentação de Cristo" (1988) —, Schrader tornou-se um quase marginal na paisagem de Hollywood, enfrentando crescentes dificuldades para a montagem financeira dos seus projectos. Afinal de contas, a sua primeira nomeação para um Oscar (na categoria de argumento original) apenas aconteceu em 2019, com esse filme notável, centrado no calvário moral de um sacerdote, que é "No Coração da Escuridão". Na respectiva banda sonora, Neil Young marcava presença com "Who’s Gonna Stand Up and Save the Earth?", uma canção de combate sobre a defesa da humanidade e do seu planeta.