Tragédia e dança nas ruas de Nova Iorque... 60 anos antes de Spielberg

Em casa

WEST SIDE STORY (1961)

O "West Side Story" de Steven Spielberg inspirou-se no musical de Leonard Bernstein e Stephen Sondheim estreado na Broadway, em 1957 — quatro anos mais tarde, surgiu a versão assinada por Robert Wise e Jerome Robbins.

3 Jan 2022 19:41

A arte do cinema é também um permanente exercício de recuperação de memórias. Grande lançamento do final de 2021, "West Side Story", de Steven Spielberg, é um caso exemplar de tal dinâmica. E vale a pena sublinhar uma vez mais que não se trata de um “remake”, já que a inspiração provém do musical tal como foi representado, na estreia na Broadway, corria o ano de 1957. De qualquer modo, escusado será dizer que o trabalho de Spielberg não é estranho à herança, se não estética, seguramente simbólica, do "West Side Story" de 1961, assinado por Robert Wise e Jerome Robbins — "Tonight", cantado pelas personagens de Maria e Tony, é um dos seus emblemas.

Natalie Wood é Maria, sendo Tony interpretado por Richard Beymer. São ambos magníficos, compondo um Romeu e Julieta do século XX, em cenários marcados pela violência entre gangs, numa Nova Iorque a viver grandes transformações urbanas. Seja como for, importa também fazer justiça e lembrar que não eram eles que cantavam: Richard Beymer é dobrado por Jimmi Bryant e Natalie Wood por uma das grandes senhoras dos musicais de Hollywood, mesmo se foi quase sempre uma voz dos bastidores, Marni Nixon.

Distinguido com dez Oscars, incluindo o de melhor filme de 1961, "West Side Story" é uma proeza lírica e musical: os versos são de Stephen Sondheim e a partitura de Leonard Bernstein. Muito marcada por influências do jazz e dos ritmos latinos, a música de Bernstein é um dos exemplos mais eloquentes da sua versatilidade, aliás ilustrada pelo facto de ele ter composto a opereta "Candide" ao mesmo tempo que trabalhava em "West Side Story". Aliás, "Candide" estreou um ano antes, em 1956 — eis uma gravação da abertura, com o próprio Bernstein a dirigir a London Symphony Orchestra.

O novo filme de Spielberg preserva a fundamental dimensão simbólica de "West Side Story": estamos, de facto, perante um misto de tragédia íntima e parábola social sobre um país nascido do cruzamento das mais diversas sensibilidades e culturas. Obviamente não por acaso, uma das canções mais célebres de "West Side Story" intitula-se "America" — eis como Wise e Robbins a filmaram em 1961.