O romance publicado em 1837 é um dos títulos da série comédia humana, escrita por Honoré de Balzac, que antecipa em mais de um século o lugar do jornalismo num mundo, onde manda quem tem poder e dinheiro.
O realizador Xavier Giannoli revisita a obra do escritor francês, que conta a história de um jovem que chega a Paris com a ambição de se tornar escritor, mas acaba enredado na complexa teia montada pela elite intelectual, numa altura em que a revolução industrial faz avançar o jornalismo para outro patamar.
“Ilusões Perdidas” esteve na corrida ao Leão de Ouro do Festival de Veneza 2021 e foi apresentado pelo realizador Xavier Giannoli numa entrevista com o CINEMAX realizada durante o festival.
Porque é que se interessou pela escrita de Honoré de Balzac, e em particular por esta história?
Acho que para qualquer rapaz ou rapariga, este livro é uma história de iniciação. Acho que todos nós passámos por isso, quando estamos a descobrir o nosso lugar no mundo, descobrimos as mentiras e o que está nos bastidores da sociedade, quer seja através de um filme, da escola, em todo o lado. Ele é um visionário, que viu o mundo moderno. Viu o liberalismo económico e a forma como a sociedade iria estar em luta, em conflito e como iria ajoelhar-se perante o dinheiro. Para mim, isto era humano e político, era um mundo completo.
Mas até onde é que vai esta adaptação, tudo o que vemos está no livro?
Tudo o que se fala no filme sobre aquilo que agora são as notícias falsas, está no livro. Por exemplo, o jornal Le Canard citado no livro significa O Pato. Em França, temos um jornal muito famoso que é o Le Canard Enchaîné, O Pato Acorrentado. E sempre que há um escândalo em França, toda a gente vai à procura do Le Canard Enchaîné.
De que forma é que esta história se relaciona com o jornalismo nos dias de hoje?
Eu estou a falar de um momento muito específico, em que a imprensa em França se tornou livre, depois da revolução francesa e depois de Napoleão, em que estava tudo muito aprisionado. Depois disso, os jornais podiam simplesmente escrever o que lhes apetecesse. Quis respeitar o livro e a ideia do livro sobre a chegada da revolução industrial, numa altura em que a informação estava a transformar-se numa indústria. Muitos perceberam que podiam ganhar dinheiro com os jornais. Não é exatamente assim hoje em dia, porque o jornalismo está condicionado pelo marketing, por isso no final, coloco a interrogação de como serão os jornais sem papel e sem tinta.
Já tinha assumido que queria fazer esta adaptação, por isso finalmente está a cumprir um sonho?
Para mim era muito importante fazer um filme passado no século XIX, com aquele guarda roupa, em cenários reais e filmar em Paris. Porque é uma forma de civilização. O ritual da mulher mostrar a mão ou um casaco. E claro, a linguagem e o vocabulário que usam. Para mim era importante fazer um filme sobre a beleza da civilização francesa e europeia.