19 Mai 2022 18:29
Representantes do cinema ucraniano apelaram quinta-feira em Cannes à exclusão total dos filmes russos do lançamento internacional – incluindo os de Kirill Serebrennikov, um dia depois deste cineasta, em desacordo com o regime, ter inaugurado a competição.
"Pensamos realmente que tudo o que é russo deve ser apagado", disse o produtor cinematográfico ucraniano Andrew Fesiak à AFP numa conferência sobre "propaganda russa", organizada pelo pavilhão dos EUA no Mercado do Cinema. "Os cineastas russos não podem fingir que está tudo bem e que não têm nada a censurar-se", disse, "numa altura em que os cineastas ucranianos são obrigados a deixar de fazer filmes porque têm de fugir pelas suas vidas, ou pegar em armas".
A propósito da presença em competição do filme "A Mulher de Tchaikovsky", Fesiak diz que "Serebrennikov não é um adversário, de modo algum", mas recorda que "toda a sua carreira foi financiada pelo dinheiro do governo russo".
O festival de Cannes decidiu não acolher representações oficiais russas, ou cidadãos daquele país que defendam a linha do Kremlin sobre a Ucrânia. Mas, seguindo a mesma linha de outros grandes eventos culturais mundiais, o diretor do festival, Thierry Frémaux, defendeu a ideia de dar as boas-vindas aos dissidentes russos, na segunda-feira, diante dos jornalistas: "Há artistas russos, jornalistas, que deixaram a Rússia. Kirill Serebrennikov é um homem que considerou que se não deixasse a Rússia, seria cúmplice nesta guerra".
Serebrennikov está agora sediado em Berlim. Disse à AFP no final de abril que tinha deixado a sua Rússia natal por uma questão de "consciência".
Frémaux acrescentou na segunda-feira que a ideia de um "boicote total" tinha sido solicitada "não pelas autoridades ucranianas mas por pessoas muito radicais". "É uma posição que posso compreender (…) porque são pessoas que estão a ser bombardeadas", admitiu ele.
Andriy Khalpakhchi, diretor do Festival Internacional de Cinema de Kiev, respondeu quinta-feira que, na sua opinião, não existem "bons russos" neste momento, e que Kirill Serebrennikov "deveria ter tomado a sua própria decisão de não participar no festival de Cannes".