26 Mai 2022 11:41
Pela primeira vez em competição em Cannes, Saeed Roustaee assina com "Os Irmãos de Leila" um ambicioso fresco familiar, tendo como pano de fundo a crise económica no país dos Mullahs.
Após o sucesso do seu thriller policial "A Lei de Teerão" (2021), Saeed Roustaee, 32 anos, regressa com um filme de três horas que retrata Esmail (Saeed Poursamimi), um velhote modesto e pai de cinco filhos, que sonha em tornar-se chefe do clã familiar.
Um título honorário a que ele pensa ter direito devido à sua idade. Mas com este título vêm as obrigações financeiras. Como pode ele contribuir para o estilo de vida do clã quando os seus meios são limitados e os seus quatro filhos estão desempregados?
Numa reviravolta do destino, o público descobre que Esmail tem, na realidade, muito mais dinheiro do que ele deixa os seus filhos e a sua mulher acreditar.
Entretanto, a sua filha, Leïla (Taraneh Allidousti), tenta convencer os irmãos a comprar uma loja para que possam trabalhar. Mas alguns dos fundos necessários estão em falta e Esmail quer conservar o seu dinheiro para a investidura no topo do clã.
Surge então uma escolha moral: devem roubar o dinheiro ao pai, ou deixá-lo usá-lo para a sua coroação, e assim ver a sua única hipótese de futuro escapar por entre os dedos?
Puntuado por discussões violentas, o filme pinta o retrato de uma família à beira da implosão, com um pilar no seu centro: Leïla, que tudo faz para tirar a família da miséria.
Um filme muito semelhante em estilo às obras de Asghar Farhadi, um membro do júri de Cannes.
Embora não seja excessivamente político, mostra a delicada situação económica e social no Irão, numa altura em que os Estados Unidos, liderados por Donald Trump, pretendia denunciar o acordo nuclear, mergulhando milhares de iranianos na pobreza.
O filme também lança uma luz dura sobre a situação dos pobres no Irão, a sua marginalização através de grandes planos nos rostos dos membros da família. Acima de tudo, questiona os códigos de uma sociedade patriarcal onde, como diz Leila, "somos ensinados a ter convicções e a não pensar".