17 Mai 2023 0:11
Cerca de 500 cineastas, maioritariamente francófonos, entre os quais Albert Dupontel, Olivier Nakache e Eric Toledano e os irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne, denunciaram a interferência da indústria no seu trabalho artístico “em nome da rentabilidade”, numa declaração publicada na terça-feira.
Numa declaração publicada no dia de abertura do Festival de Cannes, os artistas, membros da Sociedade de Realizadores de Cinema (SRF), que organiza a secção paralela da Quinzena dos Cineastas, manifestaram o alarme pelo facto de “a diversidade e a vitalidade (do cinema) serem cada vez mais enfraquecidas por certas práticas que violam os princípios fundamentais dos direitos de autor e da liberdade de criação”.
Citam, nomeadamente, “guiões modificados, colaboradores artísticos e castings (impostos), filmes modificados durante a montagem pelos difusoses, escolha (prescrita) de música”.
Estas práticas, “em nome da rentabilidade”, “representam inevitavelmente uma forma de censura que altera qualquer processo criativo”, afirmam.
De acordo com os signatários, está em causa a liberdade de experimentação num cenário que resulta na invisibilidade do autor, aproximando-se perigosamente da noção de “copyright” que prevalece no mercado americano. Na tradição jurídica americana, ao contrário da europeia, o realizador não tem a última palavra e pode perder o controlo sobre o destino da sua obra.
Por isso, exigem que a versão final do guião, o título do filme, o corte final ou os créditos não possam ser alterados sem o consentimento do artista.
Os signatários incluem também Costa Gavras, Kev Adams, Jacques Audiard, Claire Denis, Nicole Garcia e Alice Winocour.
A questão do respeito pelos direitos dos diferentes intervenientes na cadeia de criação cinematográfica é um tema quente, como o demonstra a greve dos argumentistas que paralisa actualmente Hollywood.