17 Mai 2023 23:48
O cineasta japonês Hirokazu Kore-eda, vencedor da Palma de Ouro em 2018, apresentou quarta-feira em Cannes o filme “Kaibutsu” (o título internacional, em inglês é “Monster”), um drama sobre a intimidação nas escolas, contado do ponto de vista do professor e depois do seu aluno, para que o espectador “se interrogue sobre quem é o monstro”.
A estrutura em três partes do filme “permite sobretudo uma coisa: por mais longe que se vá, no final, nunca se percebe bem o que se passa”, explicou o realizador, premiado na Croisette com “Shoplifters – Uma Família de Pequenos Ladrões”.
Rompendo com os seus hábitos habituais, Kore-Eda apoia-se desta vez num argumento de Yuji Sakamoto, que descreve os acontecimentos a partir de diferentes perspectivas, permitindo “que a humanidade das personagens apareça melhor”.
“Extremamente brilhante”, segundo o realizador, este guião dá a oportunidade de aprender “um pouco mais de cada vez, mas, no entanto, nunca temos uma visão perfeitamente clara do que se passa. Isto permite-nos realmente ser apanhados no filme” e criar “uma espécie de tensão”.
“Queria que o espectador pudesse interrogar-se, da mesma forma que as personagens do filme: quem é o monstro?”, acrescentou Hirokazu Kore-eda, 60 anos.
Depois de passagens pela França e Coreia do Sul, Kore-eda apresenta uma longa-metragem com personagens cheias de humanidade e “amizade” e uma mensagem universal sobre as instituições, neste caso o sistema escolar, que se protegem a si próprias.
“Acontece que se trata de uma escola primária, mas penso que o que queríamos salientar era que, quando uma instituição coloca a sua protecção no topo das prioridades, não importa o que realmente aconteceu”, disse, fazendo eco de uma das falas do director da escola.
“Isto não se aplica apenas ao sistema educativo japonês”, acrescentou. Penso que se aplica à maioria das instituições, das comunidades, que tendem geralmente a querer proteger-se acima de tudo.
Particularmente apreciado em Cannes, Hirokazu Kore-Eda distinguiu-se logo em 2004 com “Ninguém Sabe”, que valeu a Yûya Yagira o prémio de melhor actor, e em 2013 com o Prémio do Júri por “Tal Pai, Tal Filho”, antes da Palma de Ouro, cinco anos mais tarde.