26 Mai 2023 12:14
A realizadora Catherine Breillat regressou ao mundo do cinema esta quinta-feira, após dez anos de ausência, com “L’Eté dernier”, uma história imoral e provocadora sobre uma madrasta incestuosa.
A cineasta, sempre empenhada em desafiar as convenções e tratar sem rodeios as questões da sexualidade e das relações entre homens e mulheres, optou mais uma vez pela subversão ao realizar um remake de “Dronningen”, um filme dinamarquês de 2019, onde confiou o papel principal a Léa Drucker.
No filme, que concorre à Palma de Ouro, Léa Drucker interpreta uma advogada especializada na protecção de menores, confrontada com a chegada a casa do filho do seu marido, de um casamento anterior.
Entre o adolescente hostil, interpretado por Samuel Kircher, e a sua sogra, desenvolve-se uma intensa relação carnal, debaixo do nariz do pai (Olivier Rabourdin) e das meninas que adoptaram.
Deixando-se levar pelo entusiasmo dos seus abraços, os amantes expõem-se cada vez mais ao risco de serem descobertos.
Se a verdade vier ao de cima, neste ambiente profundamente burguês, a vida da advogada pode desmoronar-se.
Já o jovem rapaz é indecifrável: inconsciente, apaixonado, ou manipulador, com o objectivo de prejudicar a sogra? No filme, pouco se fala da sua capacidade de consentimento, apesar da sua tenra idade e da figura de autoridade que representa a madrasta.
O filme era aguardado com expectativa porque Catherine Breillat, uma artista considerada sulfurosa ou mesmo obscena por alguns, hemiplégica após um AVC, não realizava desde “Abus de faiblesse” (2013).
Curiosamente, a questão das relações nas fronteiras do controlo, da ilegalidade e da imoralidade, entre mulheres adultas e jovens adolescentes sob a sua autoridade, foi levantada com frequência nos filmes desta 76ª edição do Festival de Cannes.
Em “Club Zero”, da realizadora austríaca Jessica Hausner, uma professora de dietética e uma das suas alunas iniciam uma relação num colégio de luxo.
A fronteira da legalidade é transposta também em “May, December”, de Todd Haynes, com Julianne Moore e Natalie Portman, sobre a relação entre uma professora e o seu aluno do sétimo ano, a família que resultou dessa relação e as décadas de negação que se seguiram.