26 Mai 2023 20:19
O filme “A Flor do Buriti”, da realizadora brasileira Renée Nader Messora e do cineasta português João Salaviza recebeu o prémio de melhor elenco na secção Un Certain Regard do Festival de Cannes, foi anunciado ao final da tarde de sexta-feira.
Rodado ao longo de durante quinze meses na Terra Indígena Kraholândia, “A Flor do Buriti” foi produzido, tal como o filme anterior da dupla, “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos”, usando uma equipa reduzida e composta em grande parte por indígenas.
 

João Salaviza
salientou esse lado quase familiar e íntimo da rodagem ao explicar ao CINEMAX o que representa esta distinção: “Tem um significado enorme e recebemos um prémio que nos deixou a todos muito felizes porque o prémio ‘ensemble’ identifica e premeia um trabalho coletivo. Como se viu, nós subimos todos ao palco, é uma equipa muito pequena e basicamente constituída por um grupo de amigos indígenas e não indígenas.”
“Eu acho que o filme carrega o espírito de todos os povos indígenas do Brasil que estão a manter a terra sem que ela caia. O filme procura inscrever estas narrativas e estas vozes num lugar com muita visibilidade e estamos muitos honrados por termos o previlégio de acompanhar os Krahô nesta aventura,” concluiu o realizador português.Já Renée Nader Messora disse: “É um prémio que pensa uma forma colectiva de olhar para o mundo. Os Krahô ensinam isso todos os dias. Qualquer comunidade indígena mantém viva uma ideia de comunidade, que nós perdemos. Este prémio é o reconhecimento de que devemos voltar a pensar no colectivo.”

Construída a partir de relatos históricos e da tradição oral dos Krahô, a narrativa de “A Flor do Buruti” continua a mostrar a luta pela terra e as diferentes formas de resistência implementadas pela comunidade situada na região Tocantins, no Brasil.O filme atravessa os últimos 80 anos dos Krahô, desde um massacre perpetrado por fazendeiros da região, até à época da ditadura militar, culminando no presente quando, diante de velhas e novas ameaças, o povo da Aldeia de Pedra Branca reinventa novas formas de resistência.

Um desses momentos ocorreu em pleno festival quando a equipa e o elenco do filme aproveitou a passagem pela passadeira vermelha para mostrar a oposição à tese jurídica do Marco Temporal, sobre a demarcação de terras indígenas, defendida pela direita brasileira e em discussão no Supremo Tribunal Federal daquele país.

Apoiada pelos grandes fazendeiros e líderes do agronegócio, a proposta quer que o direito à terra dos povos nativos seja limitado às áreas sob o seu controlo em 5 de outubro de 1988, quando a atual Constituição brasileira foi promulgada, o que segundo os Krahô “legaliza e legitima a violência a que os povos foram submetidos”.

Em Cannes, a equipa de “A Flor do Buruti” ergueu os punhos e desfraldou uma faixa onde se lia “O futuro das terras indígenas está ameaçado. Não ao Marco Temporal!”.

  • CINEMAX RTP c/ Tiago Alves e Lara Marques Pereira (em Cannes)
  • 26 Mai 2023 20:19

+ conteúdos