09 Fev 2024
Charles Augustus Howell viveu em Londres na época vitoriana, e ascendeu socialmente a negociar em arte e em chantagem. O escritor Artur Conan Doyle chamou-lhe “O pior homem de Londres”, e transformou-o em vilão numa das histórias do famoso detetive Sherlock Holmes. Charles existiu e era português!
O realizador Rodrigo Areias, (“Surdina”; “Estrada de Palha”) foi desafiado pelo produtor Paulo Branco a fazer um filme de época. Eduardo Brito foi chamado para o projeto como argumentista, e foi ele quem sugeriu a possibilidade de contar no cinema, quem era Charles Augustus Howell, o português que ganhou lugar no imaginário de Sherlock Holmes.
Rodrigo Areias aceitou a proposta, porque queria “trazer humanidade à personagem, para que o público possa discordar do título do filme”. “Nem todos somos só bons ou maus”, diz o realizador a propósito da personagem interpretada por Albano Jerónimo.
Charles era um jovem do Porto, filho de mãe portuguesa e pai inglês, que se muda para Londres na época vitoriana e se rodeia dos artistas pré-rafaelitas. Dá-lhes apoio financeiro a troco das obras que vende, ou falsifica, conforme as necessidades. Um homem dúbio, sedutor e cativante que, segundo Albano Jerónimo, “se reinventa para sobreviver”. Tal como acontece ainda hoje, aos que “acreditam que a arte é um bem maior”, diz o ator.
Rodrigo Areias admite que a personagem atravessa os tempos e conta que Paulo Branco, produtor do filme, se identificou com algumas das histórias deste homem, que no filme é uma porta de entrada para a aristocracia britânica e para a reflexão sobre a relação da arte e dos seus patrocinadores.
A pesquisa para compor a personagem foi feita por Albano Jerónimo através de livros, pinturas e em conversas com descendentes de famílias britânicas, que se encontram no Porto.
A cidade serviu de cenário para o filme, em locais como o Palacete Pinto Leite, a Casa Allen, a Casa São Roque, o Jardim do Museu do Romântico, o Jardim Botânico ou o exterior do Centro Hospitalar Conde de Ferreira.
O elenco contra ainda com as participações da atriz portuguesa Vitória Guerra, ou do britânico Edward Ashley na pele do pintor e poeta Dante Gabriel Rossetti. Albano Jerónimo é, no entanto, a figura que se destaca. Maquiavélico, inteligente, subtil e elegante, com um guarda-roupa feito à medida, e que não repete uma única peça nas várias cenas do filme.
Charles Augustus Howell parece uma personagem de ficção, mas ganhou dimensão humana com o desempenho de Albano Jerónimo.