30 Jan 2025

O filme “Noites Claras” é uma história de irmãos e um drama familiar. Marca o regresso do realizador Paulo Filipe Monteiro às longas-metragens para cinema.

O tema desperta o interesse do cineasta:

Vamos seguir a dinâmica em especial de uma família de dois irmãos, que estão bastante afastados. Ao longo do filme, com os seus problemas, as suas crises, acabam por se aproximar. É muito bonito ver como começam a apoiar-se um ao outro. E quais são essas crises? São túneis. O slogan do filme é “a luz ao fundo do túnel não é uma ilusão”.

Em “Noites Claras”, Paulo Filipe Monteiro quer transmitir a convicção de que a luz ao fundo do túnel é real. As personagens, Lídia e Lauro, são dois irmãos que, apesar de afastados, se reencontram entre crises existenciais e a procura de sentido para a vida:

O rapaz, o Lauro, está com problemas com a sua identidade de género, a descobrir que não gosta só de mulheres, ou que se calhar até gosta mais de homens. E isso não devia ser uma complicação tão grande em 2025, mas para ele, com as nuvens que faz na sua cabeça e com a educação que teve, é uma grande confusão até conseguir sair do túnel e ver que a luz está lá.

Para ela é a questão da depressão pós-parto que, na versão ligeira, chamada Baby Blues, afeta 80% das mulheres e algumas delas têm uma depressão muito mais profunda.

As expectativas eram tão felizes, ia ser maravilhoso para ela, para a família. A criança nasce, a criança está bem, mas a mãe muitas vezes afunda-se.

O nascimento de um bebé e a escolha da profissão de agente funerário é um dos paradoxos que Paulo Filipe Monteiro traz para “Noites Claras”:

É mais um paradoxo, porque isto tudo é paradoxal, mas ganhar a vida com a morte é uma profissão que sempre me fascinou.

Quando há muitos anos apareceu aquela série, “Sete Palmos de Terra”, eu disse ‘queria tanto fazer isto e já foi feito’, mas foi há muitos anos e agora veio-me assim dos baús da memória esta hipótese do trabalho dele lidar com os mortos e de o drama dela ser lidar com a vida, com a criança que nasce.

O elenco de Noites Claras reúne os atores Duarte Melo, Custódia Gallego, Lídia Franco, Rita Loureiro, António Durães e Pedro Lacerda. Beatriz Godinho tem a personagem de Lídia e Romeu Runa é Lauro.

Identidade sexual e a depressão pós-parto orientam a narrativa e a dramaturgia de Paulo Filipe Monteiro em “Noites Claras”. O cineasta recolheu testemunhos de mulheres portuguesas e fez um profundo trabalho de investigação sobre assuntos que preocupam tanto homens como mulheres:

Há um blogue muito interessante, ‘Mulher, Filha e Mãe’, que tem muitos testemunhos de mulheres portuguesas. Contam coisas que não imaginava possível, ao ponto que chegam do seu desespero, ao ponto de quererem matar a criança.

Julgava que isso era lá para a Medeia, na tragédia grega, mas li muitos testemunhos portugueses nesse sentido. São coisas muito humanas, não é? São coisas por que qualquer um pode passar.

O cineasta Paulo Filipe Monteiro junta num mesmo filme dois temas presentes na sociedade portuguesa. A intenção é também desencadear uma reflexão e debates sobre a depressão pós-parto e a bissexualidade:

São dois episódios diferentes, mas que se vão juntando, porque até são irmãos e vão se aproximando, era qualquer coisa que me fascinava.

As questões da sexualidade não estão resolvidas, e as questões de género estão muito na ordem do dia, mas causa também muito sofrimento e muita perplexidade, enquanto não se parte para a luz. E então as questões de bissexualidade, apesar de estarem lá na sílaba LGBT, essas então quase não são referidas.

Lisboa é o cenário de “Noites Claras”, mas, ao mesmo tempo, é uma figura ativa no filme. Paulo Filipe Monteiro, tem a preocupação e o gosto de mostrar uma cidade contemporânea, pouco representada no cinema, e que surpreende:

Como dizia o Paulo Rocha, cinema é a relação das personagens com os espaços. Isso para mim é muito importante, mas dar uma Lisboa diferente, como ele deu na altura. Gosto muito da arquitetura contemporânea, há coisas maravilhosas de arquitetura contemporânea em Lisboa, que nunca tinham aparecido, como a pala do Sisa, que está lá desde 1998 e nunca tinha sido usada no cinema.

O MAAT, o Teatro Thalia, muitos espaços estimulantes do ponto de vista arquitetónico e que dão outra imagem de Lisboa. Renovar a imagem da cidade foi um gosto, uma preocupação e um gosto.

“Noites Claras”, uma produção Ukbar Filmes, é uma história de reencontro e de superação de dois irmãos em busca de uma luz ao fundo do túnel:

É um filme que mistura um bocadinho os géneros, porque tem diálogo, mas também tem dança, tem drama, mas também tem alguma ironia, algum humor, tem um final um bocadinho surpreendente.

“Noites Claras” estreia esta semana nas salas de cinema.

  • Margarida Vaz
  • 30 Jan 2025 19:45

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