

“O Romance de Jim”: os irmãos Larrieu e uma história de paternidade
Arnaud e Jean-Marie Larrieu levam ao cinema uma história de paternidade e laços inesperados, baseada no romance de Pierric Bailly.
06 Mar 2025
“O Romance de Jim” é uma história de paternidade realizada por uma dupla de irmãos, Arnaud e Jean-Marie Larrieu. A obra de Pierric Bailly serve de ponto de partida do filme. O escritor francês enviou o livro aos irmãos Larrieu com a intenção de o ver adaptado para o cinema.
Arnaud Larrieu recorda que a potencialidade da história agradou aos dois cineastas:
Foi o escritor quem nos enviou o livro. Lemos e gostámos muito, não necessariamente por causa da história.
Estávamos um pouco cautelosos, pois havia um lado muito social. Não vimos logo que tipo de filme poderíamos fazer, não parecia ser o nosso género. Mas gostamos da forma como a história é contada. É muito romântica, mas com pessoas e vidas comuns.
É um homem que se vê, fruto do acaso, a viver com uma criança que não é sua. Obviamente, a criança torna-se seu filho. Depois, o pai biológico regressa. Ele não leva a criança à força, mas os acontecimentos fazem com que a criança lhe seja retirada.
A ação desenrola-se ao longo de mais de 20 anos, o que era um difícil de mostrar no ecrã. Arnaud Larrieu explica que recorreram a elipses temporais para condensar a história no filme. Foi uma das alterações feitas na transposição do livro para o cinema, explica ao cineasta:
No romance, as cenas são de uma rotina diária. Vai para o trabalho várias vezes, comenta o que faz. Nós dramatizamos isso, ou seja, criamos cenas baseadas na personagem e na sua vida social ou familiar. Mas no filme, as coisas só acontecem uma vez.
Enquanto no romance, as situações repetiam-se diariamente. Foi esta a adaptação. Significou fazer cenas com todas estas pessoas, mas cenas que não existiam no romance, exceto a última cena. Por isso, no filme, as elipses são muito mais fortes.
Os realizadores, os irmãos Larrieu, nasceram em Lourdes, nos Pirenéus, onde têm feito vários filmes, como foi o caso da última longa-metragem “Tra-la-la”.
O cenário do romance de Jim é a região do Alto Jura, na localidade de Saint-Claude.
Desta vez, filmaram noutra montanha, justifica Larrieu:
O romance passa-se no Jura, mas o escritor pensou que iríamos filmar nas nossas próprias montanhas, os Pirenéus, uma vez que filmamos lá muitas vezes. Ele pensou mesmo que íamos deslocar a história. Nós dissemos que não, que não estávamos muito interessados em fazer essa mudança. Convidámo-lo a vir convosco e a levar-nos a conhecer os lugares do romance.
Vimos muitos locais em que o escritor pensou enquanto escrevia. A casa, na pequena cidade de Saint-Claude, no Jura, que não conhecíamos. Passámos lá alguns dias. Adorámos a geografia do local e as pessoas. São habitantes de cidades pequenas e desfavorecidas, mas são incrivelmente fortes.
A vida lá é dura, mas existe uma verdadeira comunidade que funciona muito bem.
“O Romance de Jim” conta a história de Aymeric, um jovem operário fabril, que reencontra uma antiga colega. Ela é solteira e está grávida. Aymeric decide ajudá-la. É ele, quem está presente quando o bebé nasce e assume o papel de pai. São felizes durante vários anos, até que aparece o pai verdadeiro de Jim. O mundo desaba. As personagens entram numa espiral de emoções e sentimentos.
Os irmãos Larrieu escolheram o ator Karim Leklou para o papel principal, o de pai adotivo de Jim:
Interessava-me o retrato da personagem porque é bastante romântico. É um homem que descreveria como gentil, resistente, que enfrenta as dificuldades que encontra, mas de uma forma muito real, tal como na vida. Esse é um dos pontos fortes da escrita dos realizadores e do escritor.
Uma coisa de que gostei muito no guião é o facto de não haver reviravoltas no enredo, com grandes mudanças nos estados psicológicos. É uma personagem bastante constante que está a evoluir pessoalmente e, acima de tudo, vai começar uma criança. Não tinha planeado ser pai e, de repente, cria-se essa ligação.
Após ter interpretado personagens mais sombrias, como a de “Vincent Deve Morrer”, Karim Leklou interessou-se pelo papel de um homem que assume a tarefa de criar um filho que não é dele e do qual tem de se separar quando aparece o pai biológico:
É um personagem que não se vê muitas vezes nos filmes hoje em dia. Soube-me bem interpretar uma personagem assim, especialmente porque tinha acabado de sair de filmes com personagens mais sombrias ou violentas.
Soube-me bem interpretar este homem gentil e bondoso, mas com uma gentileza e uma bondade que não rimam com estupidez, ou fraqueza, mas sim com algo que parece muito real na vida quando se encontram dificuldades. Imagino sempre que vamos conseguir reagir e fazer coisas formidáveis e continuar a avançar.
Gostei muito deste tipo de escrita e de trabalhar com estes realizadores. Sentia que estava preparado para tentar captar uma emoção que me dissesse alguma coisa, ler um guião e ficar comovido. Isso acontece muito raramente. Não sei explicar o porquê, mas logo na primeira leitura fiquei comovido com o guião. Achei-o bonito e universal.
“O Romance de Jim” reflete sobre a família e as relações filiais, mas, para Karim Leklou, o filme não se reduz à paternidade:
Para mim, o filme não é só sobre a paternidade. É sobre o amor entre as pessoas, sobre o amor afinal. Sendo ele o narrador da sua própria história, conta a história da sua vida. As sequências no trabalho são muitas vezes silenciosas. Vemos a sua paixão pela fotografia, mas o que sabemos dele é através das relações com as pessoas.
As relações amorosas que teve na sua vida, com as suas mulheres, com o seu filho adotivo, as amizades. É muito mais abrangente do que só a paternidade.