

O duplo cartaz de Cannes 2025
Anouk Aimée e Jean-Louis Trintignant abraçados numa cena de "Um Homem, Uma Mulher", de Claude Lelouch.
O 78º Festival de Cannes apresentou o cartaz oficial criado a partir do momento e de uma cena de um filme com 60 anos. O texto justificativo é este:
Em 1965, dois seres danificados interpretados por Anouk Aimée e Jean-Louis Trintignant encontraram-se, encantaram-se, resistiram e finalmente rodopiaram sob a câmara incandescente de Claude Lelouch. A Palma de Ouro em Cannes em 1966, os dois Óscares em Hollywood em 1967 e as dezenas de prémios em todo o mundo empalidecem em comparação com este grandioso momento de ternura, simplicidade e beleza. Porque é, sem dúvida, o abraço mais famoso da 7ª Arte, porque não se pode separar um homem e uma mulher que se amam, porque não se pode separar este Homem desta Mulher, o Festival de Cannes optou pela primeira vez na sua história por apresentar um duplo poster oficial.
Um homem e uma mulher. Lado a lado. Juntos novamente.
— Ele: Quando algo não é sério, dizemos que é como um filme. Porque acha que os filmes não são levados a sério?
— Ela: Talvez porque só vamos ao cinema quando tudo corre bem?
— Ele: Então achas que devemos ir quando tudo está a correr mal?
— Ela: Porque não?
Em tempos que parecem querer separar, compartimentar ou subjugar, o Festival de Cannes quer (re)unir; para aproximar corpos, corações e almas; para incentivar a liberdade e retratar o movimento de forma a perpetuá-lo; para incorporar o turbilhão da vida e celebrá-lo, uma e outra vez. Este homem e esta mulher, que ganharam prémios em Cannes —melhor ator (“Z”, 1969), melhor atriz (“Salto Nel Vuoto”, 1980) — já não existem.
Estes dois cartazes também prestam homenagem. Magníficos heróis da delicadeza e da sedução, Anouk Aimée e Jean-Louis Trintignant iluminam para sempre o filme das nossas vidas, como estes dois cartazes, cujas cores exprimem a intensidade de um amor apaixonado que triunfa sobre o desespero. Esta luz já não vem dos céus, hoje perturbados por todos os lados por nuvens escuras; surge da fusão radiante de dois seres que nos reconciliam com a vida.
© Les Films 13 – Um Homem, Uma Mulher, Claude Lelouch (1966) / Graphic design © Hartland Villa