primeira longa metragem de dois jovens realizadores franceses tem como
cenário a velha Quinta da Cardiga na Golegã, e inspira-se livremente no
conto “O Órfão” de Heinrich Von Kleist. Produzido pela Leopardo Filmes
de Paulo Branco, o filme carateriza a sociedade portuguesa do século XVI e centra-se na transição difícil de um jovem para a idade adulta.
Lisboa é uma cidade cosmopolita, onde o
apogeu de um poder que a expansão trouxera começa a esboroar-se, ao
mesmo tempo que se instala a rigidez de uma Inquisição cada vez mais
prepotente.
Bela (João Arrais), um adolescente adoptado por um
casal franco-português de abastados negociantes, vive uma intensa
história de amor com Rosa (Inês Pires Tavares) e uma história de amizade
com Jacques (Loïc Corbery), amigo dos pais adoptivos. Bela tenta
encontrar o seu lugar, mas uma sucessão de acontecimentos incontroláveis
(causados por equívocos, ambiguidades, ciúmes…), conduzem ao desastre.
O que é que vos interessou no conto de Heinrich Von Kleist?
de Hillerin: Todas as novelas do Kleist são muito curtas e parecem
dançar. Ambos tínhamos lido o conto antes deste filme e pensámos que
podíamos trabalhar a partir do que ele escreveu porque ele tem um apelo
para o cinema.
Dutilloy-Liégeois: Havia algo no conto original, que se passava em
Itália, mas que na transposição para Portugal tornava possível abordar
um período da história portuguesa, que está entre dois tempos. E esse é
também o lugar do Bela, alguém que está entre o mundo criança e o mundo
adulto.
é a história da relação dele com a família e com o seu mundo, com os
seus desejos. É um jovem que tenta ser adulto e ser ele próprio, mas ao
mesmo tempo é confrontado com aquilo que a família deseja para ele.
metragem, não é assustador fazer um filme de época, pelos meios que
envolve e pela estética que normalmente está associada ao género?
Félix
Dutilloy-Liégeois: Fazer um filme de época implica muita pesquisa
antes de começar, mas também inventar um pouco, porque interessa-nos
fazer cinema. Tínhamos de inventar uma linguagem cinematográfica, que se
vê nos cenários, na propria linguagem, nos figurinos e nos
enquadramentos. Na realidade, este periodo no século XVI é um pouco
desconhecido, não está muito documentado, por isso era necessário
acentuar o que sabíamos e inventar o que não existia. Não sentimos
qualquer receio, mas não nos interessava fazer um filme de época, só por
ser de época. Interessava-nos contar uma história actual, com um filme
que se passa no passado.