23 Nov 2018 0:14
Conhecemos Christian Petzold através de filmes como "Jerichow" (2008), "Barbara" (2012) ou "Phoenix" (2014), capazes de revisitar momentos emblemáticos da história da Alemanha — e da Europa —, propondo surpreendentes derivações psicológicas ou simbólicas. Integrado na secção competitiva do LEFFEST, o seu título mais recente, "Transit" (revelado no Festival de Berlim), constitui mais um brilhante capítulo na sua trajectória.
Estamos perante uma adaptação de um célebre romance de Anna Seghers, "Transit" (1942), retratando a França ocupada pelos nazis a partir da narrativa de um sobrevivente dos campos de concentração. Com um desvio tão arriscado quanto sedutor: Petzold situa a acção no nosso século XXI, não exactamente para instalar um "futurismo" de ficção científica, antes para observar os ecos temáticos da história de Seghers — a repressão, os refugiados, a resistência política — num tempo que reconhecemos como nosso.
Centrado na experiência de Georg e, em particular, no modo como assume a herança (e os documentos) de um escritor falecido, "Transit" vai-se impondo como uma parábola tanto mais perturbante quanto a sua utopia de liberdade se situa num tempo ambíguo — tempo passado pelas memórias que transporta, tempo presente pelos sinais que congrega. Isto sem esquecer uma exemplar galeria de actores, com inevitável destaque para o notável Franz Rogowski, intérprete de Georg.