21 Nov 2023

O filme “Índia”, de Telmo Churro, que se estreia na quinta-feira nos cinemas, revela uma cartografia muito pessoal de Lisboa, um guia turístico mitómano e uma história de lutos, afirmou o realizador em entrevista à agência Lusa.

Argumentista e montador, Telmo Churro teve a primeira experiência na realização em 2013, com a curta-metragem “O rei Inútil”, levando agora aos cinemas, uma década depois, a primeira longa-metragem, coescrita com a argumentista Mariana Ricardo e produzida pela O Som e a Fúria.

“Acho que é ridículo demorar tanto tempo a fazer um filme, mas não sou caso único. Em Portugal, filma-se pouco e há pouco dinheiro por filme, é um duplo problema. Eu acho que não se deve escolher uma coisa ou outra. Têm que se fazer as duas coisas, mais filmes e com mais dinheiro”, lamentou.

Entre a curta e a longa-metragem, Telmo Churro coescreveu e montou, por exemplo, os três volumes de “As mil e uma noites”, de Miguel Gomes, coescreveu “Ramiro”, de Manuel Mozos, e montou “Eldorado XXI”, de Salomé Lamas.

“Eu sou montador e argumentista e gosto muito de fazer o que faço. Tenho desejo autoral; quando tive oportunidade fiz uma curta e quando voltei a ter fiz uma longa, mas não tenho desejo de ter uma obra e de fazer rapidamente muitos filmes”, explicou.

“Índia”, rodado durante a pandemia da covid-19, é uma comédia melancólica protagonizada por Tiago (o ator Pedro Inês), um guia turístico, em luto pelo fim de uma relação, que mostra Lisboa a uma turista brasileira (a atriz Denise Fraga), também ela em luto, mas pela morte do marido.

No périplo por Lisboa, acompanhado pelo pai (o ator José Manuel Mendes), Tiago vai passeando por Lisboa, rejeita os locais mais turísticos, como o Mosteiro dos Jerónimos, prefere o Museu da Marinha, ou o Museu Geológico, e recita Antero de Quental e Raul Proença para contar a sua Lisboa à turista brasileira.

“É uma pessoa que falhou as expectativas que havia sobre ele, de ser cronista ou historiador, alguém que tivesse impacto na historiografia do seu tempo. É uma espécie de um guia turístico um bocadinho falsário, mitómano, que quer contar uma história que ele mais gosta sobre Lisboa”, descreveu Telmo Churro.

No filme há ainda um filho adolescente (João Carvalho) e um segmento dedicado a Fernão Lopes, não o cronista quinhentista do reino, mas o soldado português que no século XVI viveu praticamente sozinho durante uma década na então deserta ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul. Para Telmo Churro, Fernão Lopes é uma espécie de ‘alter ego’ do guia turístico Tiago e uma das chaves para o título do filme.

“O cinema tem esta coisa maravilhosa de fazer acreditar em coisas que não estão ancoradas numa realidade”, explicou.

Em “Índia”, Telmo Churro, lisboeta de 46 anos, filmou os sítios que lhe são próximos, sem figurantes: “O Jardim da Estrela já o tinha filmado na curta, é-me muito íntimo. As ruas são ruas onde vivi, onde andei na escola. É uma espécie de cartografia da minha cidade que, se calhar, já não existe. É uma cidade minha”.

“Índia”, que já fez um périplo por festivais, chega aos cinemas numa altura em que Telmo Churro já montou “Grand Tour”, o novo filme de Miguel Gomes, e está a montar também um documentário de Maureen Fazendeiro.

  • CINEMAX - RTP c/ LUSA
  • 21 Nov 2023 15:56

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