2 Set 2022 21:38
O documentário sobre a tomada de poder pelos fascistas na Itália em 1922 estreou em Festival de Veneza com uma ressonância particular, uma vez que um partido de extrema-direita é apontado como favorito para ganhar as eleições parlamentares do país em final de setembro.
Apresentado fora de competição no festival que começou na quarta-feira, o filme do realizador da Irlanda do Norte Mark Cousins centra-se na forma como o fascismo distorce a verdade, manipula a opinião pública e promove a sua própria narrativa.
Disseca a habilidade consumada com que Benito Mussolini, no poder entre 1922 e 1943, usou os filmes de propaganda para criar o mito da famosa entrada dos camisas negras na capital italiana, conhecida nos livros de história como "a marcha sobre Roma", seguida da ascensão do ditador ao poder.
Mark Cousins mostra como a filmagem e edição habilidosas podem ajudar a manipular a realidade, não hesitando em mostrar imagens de líderes populistas contemporâneos, salientando que Mussolini foi apenas um precursor na utilização de imagens para mobilizar as massas através de uma mensagem promovendo o patriotismo, a força e o heroísmo, com as redes sociais a tomarem hoje o lugar dos filmes.
"Quando um ciclo de fascismo recomeça, não começa exactamente da mesma maneira, mas num novo contexto", explica o cineasta. "O fascismo adapta-se de uma forma quase darwiniana para se adaptar ao novo ambiente".
O filme abre com imagens do ex-presidente dos EUA Donald Trump defendendo o seu uso de uma citação de Mussolini num tweet.
Conta também com aparições de Giorgia Meloni, cujo partido de extrema-direita Fratelli d’Italia lidera as intenções de voto para as eleições de 25 de setembro, da líder do Rassemblement National Marine Le Pen, do primeiro-ministro húngaro Viktor Orban, do presidente brasileiro Jair Bolsonaro e do seu homólogo russo, Vladimir Putin.
"Novos actores estão a desempenhar papéis" em consonância com o legado fascista, comenta a voz de Mark Cousins.