23 Mai 2014 2:58
Podemos dizer que o novo filme do canadiano Xavier Dolan, "Mommy", coloca em cena uma convulsão tipicamente familiar: um jovem turbulento, Steve (Antoine Olivier-Pilon), mantém uma relação agitada com a mãe, Diane (Anne Dorval), que por sua vez conta com o apoio da vizinha Kyla (Suzanne Clément) — dir-se-ia um "típico" quadro social, porventura ambicionando algum simbolismo mais ou menos sociológico…
Pois bem, o mínimo que se pode dizer é que Dolan é tudo o que se quiser menos um cineasta de tipologias sociológicas. Com apenas 25 anos de idade e uma obra de fulgurâncias várias — lembremos o seu mais recente título estreado em Portugal: "Laurence para Sempre" (2012) —, ele faz de cada filme uma teia narrativa cuja exuberância é cúmplice dos próprios estados de alma das suas personagens.
No caso de "Mommy", a agitação emocional de Steve empresta ao filme uma dinâmica que faz lembrar alguns telediscos, mas que vive sobretudo de uma musicalidade que contamina todos os elementos do filme. Mesmo se querer revelar demasiado sobre os aspectos visuais, repare-se no modo como as próprias dimensões do ecrã parecem estar ligadas aos acontecimentos e à sua imprevisibilidade.
No conjunto da secção competitiva de Cannes, poderá dizer-se que "Mommy" veio fazer valer as qualidades — e o sentido de risco — de um cinema genuinamente ligado às questões da juventude contemporânea (aliás, com um irónico desvio de "ficção científica", já que a acção começa em 2015…). Dolan é um cineasta que fala do interior dessas questões e, acima de tudo, está apostado em repensar a ligação do cinema com os seus protagonistas.