21 Jun 2024
Os 60 anos da orquestra Gulbenkian foram assinalados em 2022 e para marcar a data nasceu o convite a Edgar Ferreira para desenvolver um filme. O resultado é o documentário “Soma das Partes”.
“Quando comecei a trabalhar com a fundação não conhecia ninguém e gradualmente fui ganhando a confiança das pessoas que aqui trabalham e isso tem dado a vários projetos, inclusive agora este documentário sobre a orquestra”, diz o realizador.
“Tendo trabalhado regularmente com a fundação, há informações que se cruzam e todo o trabalho que a Madalena Perdigão foi fazendo ao longo do tempo também foi surgindo de forma natural. Se isso antecipava que eu fosse fazer um documentário sobre a orquestra e contar toda a história ao longo destes 60 anos, não, de todo”, explica.
Madalena Perdigão, colaboradora da fundação Calouste Gulbenkian, mulher do primeiro presidente da instituição, tornar-se-ia um nome de referência do ensino e divulgação artística em Portugal. Em 1962, aproveitou o trabalho nos Serviços Gerais de Educação para dar os primeiros passos daquilo que seria a Orquestra Gulbenkian, mas que começou apenas como uma orquestra de câmara.
Inês Tomas Almeida, Rui Vieira Nery, Maria João Pires, Evgeny Kissin, Muhai Tang, ou Joana Carneiro, são alguns dos protagonistas do documentário que reconstrói em depoimentos e imagens de arquivo os 60 anos da orquestra.
Para Edgar Ferreira, um dos desafios passou pela articulação dos depoimentos:
“Como conseguimos conjugar 23 entrevistados num espaço temporal tão reduzido? E como articulamos toda a informação que eles nos vão dando? E fazer com que, de alguma forma, aquilo que eles nos passam seja complementar.”
Ao mesmo tempo, foi preciso reunir material que, de alguma forma, resumisse e ilustrasse o percurso da orquestra:
“Não há, assim, tanta coisa. E foi um trabalho também que fizemos, foi trazer tudo o que podíamos reunir de filmagens, quer nacionais, quer internacionais. Contactámos várias televisões, a RTVE, o INA em França, para conseguir trazer o máximo de imagens que pudessem sustentar o documentário. E isso permitiu, de facto, termos imagens inéditas e termos momentos inéditos extremamente importantes na história da Gulbenkian.”
Imagens inéditas, músicos, maestros e solistas, nacionais e internacionais, dão sentido ao título “Soma das Partes”, para contar a história de uma pequena orquestra criada em plena ditadura em Portugal e que acabaria por ser determinante no panorama musical português.
Edgar Ferreira foi convidado a documentar em cinema a vida de uma orquestra e o resultado consegue ir mais além do filme encomenda e oferecer ao público um momento de reencontro com a história e com a música que a orquestra ajudou a divulgar:
“A música acompanha todo o documentário, desde o início até ao final (…) o ritmo é muito acelerado e isso teve a ver com o próprio processo de construção do documentário (…) permitiu um ritmo muito acelerado, eu acho, muito dinâmico, do princípio ao fim.”
No entanto, recusa que o filme tenha um cunho excessivamente pessoal:
“A forma como abordo o projeto é no sentido de o tornar o melhor possível. E se no decorrer disso acaba por ter um vínculo mais autoral, não é uma coisa que eu tenha pré-determinada e estabelecida.”
60 anos de vida contados em filme na primeira pessoa por aqueles que integraram ou cruzaram caminho com a Orquestra Gulbenkian. “Soma das Partes”, foi uma ideia da Fundação Calouste Gulbenkian, transformada por Edgar Ferreira numa forma de lembrar um percurso e a história dos que foram pioneiros na divulgação cultural e, em especial, na dinamização da música de orquestra em Portugal.