18 Mai 2014 0:28
É bem provável que cheguemos ao final desta 67ª edição dos Festival de Cannes fazendo um balanço entusiasta. O certo é que isso não impede que se cumpra uma "tradição" bizarra — há sempre um filme da competição que nos leva a perguntar: o que é que "isto" está aqui a fazer?
Este ano, esse filme será "Relatos Salvajes", de Damián Szifron, coprodução Espanha/Argentina que, à partida, não deixa de ter um trunfo curioso: recuperar o conceito do "filme-de-episódios" para inventariar uma série de histórias sobre as aparências das relações sociais e a maldade humana.
Temos, assim, por exemplo: um grupo de passageiros num avião, descobrindo algo de inquietante sobre a identidade do respectivo comandante; ou dois automobilistas que discutem numa estrada deserta num crescendo de violência; ou ainda um casamento em que a noiva descobre as infidelidades do noivo…
São pequenas anedotas dramáticas contadas com uma atitude de olímpico desprezo pela dimensão humana e, sobretudo, apoiando-se num registo vulgar e estereotipado, a meio caminho entre o mais banal filme de terror e uma patética comédia do absurdo. De facto, não há muito a dizer, a não ser explicitar o espanto de ver um objecto tão medíocre integrado numa selecção em que já passou, por exemplo, o extraordinário "Winter Sleep", de Nuri Bilge Ceylan.