10 Mar 2015 14:38
O setor do cinema português passou a ter mais mulheres na produção de documentários e de longas-metragens de ficção, em dez anos, mas Portugal ainda está longe da igualdade de género, segundo dados revelados hoje em Lisboa.
A Cinemateca acolheu um encontro internacional, promovido pelo fundo europeu Eurimages, sobre igualdade de género no cinema na Europa, e em particular em Portugal, e os dados estatísticos apontam para uma maior presença de mulheres, em áreas como a realização e a produção.
"Ainda assim, ainda há muito poucas mulheres a trabalhar na indústria cinematográfica", afirmou Sanja Ravlic, presidente do grupo de trabalho para a igualdade de género, criado em 2013 pelo fundo Eurimages.
Sobre Portugal, a investigadora Teresa Duarte Martinho, do Instituto de Ciências Sociais, comparou dados de dois períodos específicos – de 2001 a 2003 e de 2011 a 2013 -, registando dois aumentos significativos sobre presença de mulheres no cinema português.
A percentagem de mulheres produtoras de longas-metragens de ficção passou de 19,3 por cento (2001-2003) para 37,8 por cento (2011-2013) e de documentários subiu de 36 por cento (2001-2003) para 53,8 por cento (2011-2013).
Na realização, tanto de longas de ficção como documentais, o aumento é ligeiro ao longo da década analisada e está ainda aquém da equidade, comparando com a presença de homens no setor.
Nas áreas de produção como guarda-roupa e maquilhagem, o domínio continua a ser feminino.
"As mulheres chegaram tarde aos lugares de topo [no cinema], mas atualmente ocupam cargos importantes", valorizou o diretor da Cinemateca, José Manuel Costa, sublinhando que sucedeu no cargo à primeira e única mulher que dirigiu o Museu do Cinema, Maria João Seixas.
Já Pandora da Cunha Telles, produtora, tem outra opinião; há "mais mulheres a trabalhar, mas há menos em cargos de decisão".
A produtora defendeu ainda a existência de quotas sobre participação das mulheres no cinema português e lamentou que estas "tenham menos apoio financeiro do Instituto do Cinema e Audiovisual".
Quase dois anos depois da criação do grupo de trabalho, o Eurimages apresentou hoje em Lisboa os primeiros dados estatísticos — e mais recentes – sobre a presença de mulheres na indústria cinematográfica europeia. O retrato final sobre o setor só deverá ser apresentado em outubro, segundo Sanja Ravlic.
De acordo com esta responsável, ainda há muitas assimetrias entre homens e mulheres: As realizadoras e as atrizes têm salários mais baixos do que os homens, os filmes que produzem têm menos prémios — recorde-se que o festival de cinema de Cannes só premiou uma mulher, Jane Campion.
Segundo aquela responsável, Nicole Garcia e Susanne Bier são duas das poucas realizadoras europeias que, entre 1997 e 2011, integraram a lista dos 500 filmes mais lucrativos exibidos na Europa.
Sanja Ravlic referiu ainda que no âmbito do fundo de financiamento Eurimages, das 26 realizadoras que apresentam projetos cinematográficos apenas dez receberam apoio.
O Eurimages tem estado a reunir dados sobre a participação das mulheres nesta área, com o objetivo não só de produzir estatísticas, mas também para poder apresentar propostas, a nível europeu, para que os Estados-membros prestem mais atenção ao tema.
No encontro participaram ainda várias mulheres protagonistas do cinema português, nomeadamente as produtoras Graça Castanheira e Joana Ferreira, as realizadoras e produtoras Catarina Alves Costa e Filipa Reis, às quais se juntou Maria João Seixas e o realizador João Mário Grilo.