Cinemateca Portuguesa com melhor afluência desde 2011 atinge meta histórica na digitalização
A instituição encerra 2025 com um crescimento de público que contraria a tendência das salas comerciais e assinala a recuperação digital de mais de mil títulos simbolizados por "Três Dias Sem Deus", o primeiro filme de ficção realizado por uma mulher em Portugal.
A Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema termina o ano de 2025 com o maior volume de espectadores registado nos últimos 14 anos. O resultado, que coloca a instituição nos níveis de afluência de 2011, surge num período em que as salas de exibição comercial enfrentam uma quebra generalizada de público.
O balanço positivo coincide ainda com a conclusão de uma etapa fundamental do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR): a digitalização do milésimo filme português.
Entre 2022 e 2025, foram processadas 333 longas-metragens e 697 curtas-metragens, totalizando 1.030 títulos e mais de 43 mil minutos de película recuperada. O projeto, que contou com um investimento de 10,8 milhões de euros, envolveu cerca de quatro dezenas de profissionais externos.
Simbolicamente, o milésimo filme a ser digitalizado foi “Três Dias Sem Deus” (1946), de Bárbara Virgínia, a primeira longa-metragem de ficção realizada por uma mulher em Portugal.
O diretor da Cinemateca, Rui Machado, sublinha que esta medida era “essencial” para garantir a visibilidade do cinema português, uma vez que a maioria das salas atuais já não dispõe de equipamento para projetar as cópias originais em 35mm. A instituição prevê alcançar os 1.300 filmes digitalizados até ao final do primeiro trimestre de 2026.
Para o novo ano, a Cinemateca delineou um programa que cruza cinema clássico e contemporâneo. No primeiro semestre, o foco recai sobre os 30 anos do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento (ANIM), com um mês de janeiro dedicado aos projecionistas e à diversidade de suportes cinematográficos.

Destaca-se igualmente a análise da obra de Billy Wilder pelo crítico Adrian Martin, um ciclo dedicado ao japonês Hiroshi Shimizu e a homenagem à atriz Claudia Cardinale em parceria com a Festa do Cinema Italiano.
A cinematografia espanhola será representada por Fernando Fernán Gómez, prolífico ator ao serviço de realizadores como Pedro Almodóvar e Victor Erice mas também um importante cineasta espanhol que merece, agora, um ciclo em nome próprio.
Outros dois programas a considerar em 2026 incluem um ciclo sobre espionagem e intriga internacional, uma evocação do musical com Fred Astaire e Gene Kelly e um foco na figura de Bruce Springsteen.
A instituição manterá ainda o compromisso com as origens da sétima arte através da continuidade do ciclo “Viagem ao Fim do Mudo”, composto por sessões de cinema mudo acompanhadas por música ao vivo.
Em setembro, terá início uma das maiores retrospetivas da instituição, dedicada ao produtor Paulo Branco, que deverá estender-se além de 2026.
A “rentrée” de 2026 ficará ainda marcada por uma nova incursão na filmografia de Martin Scorsese, 35 anos após a primeira retrospetiva dedicada ao realizador na Cinemateca, e pela descoberta da obra de Frank Borzage, nome cimeiro da transição do período mudo para o sonoro.
A realizadora Rita Azevedo Gomes será a convidada da reta final do ano.