

Crise em Gaza ameaça Festival de Veneza com protestos e apelos a boicotes
Organizações de base preparam marcha e profissionais do cinema exigem uma condenação firme de Israel por parte dos organizadores da Biennale de Veneza.
A crise humanitária em Gaza está a dominar os dias que antecedem a 82.ª edição do Festival de Cinema de Veneza, que arranca a 27 de agosto e poderá afetar o decorrer da Bienalle.
Organizações políticas e movimentos locais anunciaram uma marcha a ter lugar a 30 de agosto na avenida Santa Maria Elisabetta, a principal via do Lido onde tem lugar o festival, para protestar contra a atuação de Israel nos territórios palestinianos.
Num comunicado, os organizadores afirmam que a importância internacional do evento deve servir para dar voz “aos que se insurgem contra o massacre da população civil palestiniana” e acusam Israel de utilizar “a recusa de ajuda humanitária como estratégia de genocídio”, com a cumplicidade de governos ocidentais, incluindo o italiano.
Esta semana, organismos das Nações Unidas alertaram para a fome que meio milhão de pessoas em Gaza enfrentam, com mais de 130 mil crianças em risco de desnutrição aguda.
O atual conflito começou a 7 de outubro de 2023, quando um ataque surpresa do Hamas em Israel causou 1.200 mortos e fez 251 reféns. Estima-se que mais de 61 mil palestinianos tenham morrido na resposta militar israelita que se seguiu.
Um movimento que congrega cineastas e atores de vários países, unidos pela sigla V4P (Venice4Palestine), também lançou uma carta aberta ao festival e à Bienal de Veneza, pedindo uma posição mais firme contra “o genocídio em Gaza e a limpeza étnica na Palestina”. O grupo recordou ainda os 250 jornalistas palestinianos morreram desde o início da ofensiva israelita. Entre os que assinam a carta estão as francesas Céline Sciamma e Audrey Diwan (que ganharam o Leão de Ouro em 2021), os britânicos Ken Loach (Leão de Ouro Honorário em 1994) e Charles Dance, bem como a dupla de realizadores palestinianos Arab Nasser e Tarzan Nasser (prémio de melhor realização na secção Un Certain Regard no Festival de Cannes deste ano), Marco Bellocchio, Laura Morante, Mario Martone, Abel Ferrara, Alba e Alice Rohrwacher, Toni e Peppe Servillo, Matteo Garrone, Margarethe von Trotta e Valeria Golino.
Em resposta, a Bienal sublinhou que o festival tem sido “um espaço de debate aberto” e destacou a inclusão, na competição oficial, de “The Voice of Hind Rajab”, da realizadora tunisina Kaouther Ben Hania, sobre a morte de uma criança de seis anos em Gaza, bem como “Of Dogs and Men”, do israelita Dani Rosenberg, que retrata o rescaldo do 7 de outubro.
Os subscritores da carta aberta, qualificam a resposta como “insuficiente” e lamentam a falta de referências mais explícitas ao que está a suceder entre a Palestina e Israel. O grupo também questionou a presença de estrelas como Gerard Butler e Gal Gadot, protagonistas de “In The Hand of Dante”, de Julian Schnabel, cuja estreia mundial está agendada para 3 de setembro, no mesmo dia em que será exibido “The Voice of Hind Rajab”. Butler participou num evento de angariação de fundos para o exército israelita, em 2018, enquanto Gadot, nascida em Israel, tem mostrado uma posição alinhada com o governo israelita. A imprensa italiana confirmou, entretanto, que a atriz de “Wonder Woman” não vai estar presente em Veneza.