1 Mai 2019 18:55
O "Dumbo" de Tim Burton conduz-nos a uma memória radiosa e também inevitável. Ou seja: à primeira versão da história do elefante com grandes orelhas, produzida por Walt Disney em 1941. Foi um momento decisivo na evolução dos estúdios Disney e dos desenhos animados em geral — afinal, não é todos os dias que vemos um elefante a voar.
Walt Disney tinha lançado a sua primeira longa-metragem de animação, “Branca de Neve e os Sete Anões”, quatro anos antes, ou seja, em 1937. Seguiram-se “Pinóquio” e “Fantasia”, ambas em 1940 — e logo a seguir, precisamente, “Dumbo”. Dito de outro modo: em poucos anos, os estúdios Disney consolidaram um novo universo técnico que era, aliás, que continua a ser um modelo universal de espectáculo.
Encontramos em “Dumbo” a fundamental conjugação de duas linguagens: por um lado, a dimensão da fábula — a história de Dumbo é, afinal, um conto moral sobre a diferença e o direito à diferença, mesmo para um elefante com orelhas grandes; por outro lado, este é um cinema que sempre existiu em estreita ligação com as subtilezas e também as apoteoses da música e mais especificamente, das canções.
O novo “Dumbo” resulta, obviamente, de um aparato técnico completamente diferente — em quase 80 anos de história dos filmes, o saber tecnológico transformou-se de modo fulgurante. O certo é que Tim Burton mantém uma intransigente fidelidade ao espírito primitivo da fábula, incluindo mesmo no seu filme uma nostálgica recuperação de "Baby Mine", a canção mais famosa do original — eis a memória de 1941 e a nova versão, interpretada pelos Arcade Fire.