26 Mai 2022 11:21
Como num parque de diversões, o espectador não dá pela passagem das mais de duas horas e meia de "Elvis", a mais recente longa-metragem do australiano Baz Luhrmann (o mesmo de "Moulin Rouge").
A montagem frenética e a explosão de cores, assinaturas do cineasta, desorientam nas primeiras cenas, mas o ritmo rápido ganha sentido. O showbiz é um devorador de talentos e o intérprete de "Love Me Tender" acaba por morrer aos 42 anos, em 1977.
Austin Butler, de 30 anos, aceitou o desafio de fazer o papel de "Rei" durante as suas duas décadas de sucesso. E fê-lo de forma completa: é a sua voz que se ouve nas sequências em que Presley canta.
Californiano, também modelo, que apareceu em séries da série Disney e em "Era uma vez… em Hollywood" de Quentin Tarantino,impressiona na sua reprodução dos concertos de 1970 em Las Vegas.
Presley tinha então 35 anos e atravessaveo enésimo relançamento bem sucedido da sua carreira. Só lhe restavam sete anos de vida, mas ainda estava em boa forma, longe do peso excessivo e do rosto inchado, efeitos do álcool e das drogas.
Um agente manipulador
Não houve nada de linear na ascensão do músico do Mississippi, como mostra claramente o filme que estreia nos cinemas portugueses a 23 de junho.
O início tem todos os ingredientes de um conto de fadas quando o Coronel Parker, um agente vindo do mundo do circo que gere as carreiras de estrelas da música country, vê este "miúdo branco que canta como um homem negro", cena que é mostrada no filme. O empresário aposta neste artista nato que coloca os espectadores femininos em transe, muito antes dos Beatles, ou dos Rolling Stones.
Tom Hanks, aparece disfarçado na silhueta paquidérmica de Parker, a voz envelhecida, no tipo de papel que os americanos adoram. Destaca-se como um manipulador para quem "o espectáculo tem de continuar" e os cofres têm de ser enchidos. Que oferecerá o melhor e o pior ao seu discípulo.
Austin Butler brilha como um jovem Elvis, com os seus primeiros sucessos a agitar a América puritana dos anos 50. E que vê rapidamente as suas ilusões destroçadas por uma indústria musical cínica.
O filme faz bom uso de episódios pouco conhecidos do público. Forçado a cantar com um cão num programa de TV, uma má ideia da parte de Parker, Elvis vinga-se ao vestir-se de cabedal para um programa de televisão de Natal onde se destaca do fundo coberto de neve.
O filme não deixa de ter os seus defeitos – como as cenas bombásticas de Elvis em criança a descobrir a música negra americana – mas não esconde nada de uma vida no turbilhão do sexo, das drogas e do rock’n’roll.