10 Jan 2020 20:17
Foi nos últimos dias de 1996 que surgiu o filme "Evita”, uma adaptação do musical de Andrew Lloyd Webber realizada por Alan Parker. E o menos que se pode dizer é que, mais do que nunca, o chamado cinema musical não estava na moda. Só para termos uma ideia da conjuntura, vale a pena referir que entre os grandes sucessos desse ano podíamos encontrar o primeiro "Missão Impossível” com Tom Cruise e um remake de "Os 101 Dálmatas”, com chancela dos estúdios Disney.
Mais de 20 anos passados sobre o lançamento de "Evita”, vale a pena superar os restos dos preconceitos que se abateram sobre o filme, em particular sobre a performance de Antonio Banderas. De facto, Banderas está longe de ser banal — ele consegue cantar de forma simples, descarnada, com genuíno sentido dramático. E depois porque no papel de Evita Peron, a lendária Primeira Dama da Argentina entre 1946 e 1952, estava uma senhora da música pop que, afinal, tinha uma invulgar capacidade de transfiguração vocal e artística — falamos, claro, de Madonna.
Para Madonna, protagonizar “Evita” foi um arriscado desvio na carreira, quanto mais não seja porque a sua fama universal estava enraizada nas matrizes mais puras da música pop — recorde-se que, na altura, os seus álbuns mais recentes eram “Erotica” (1992) e “Bedtime Stories” (1994). A sua performance acaba por resultar de uma especialíssima fusão da transparência da pop com a dimensão trágica, não apenas da figura de Eva Peron, mas também da música de Lloyd Webber — assim acontece no tema clássico “Don’t Cry for Me, Argentina”.
Na corrida aos prémios referentes à produção de 1996, “Evita” não podia concorrer ao Oscar de melhor canção original. Porquê? Porque, precisamente, o filme não tinha canções originais — todos os temas faziam parte do musical de Andrew Lloyd Webber, estreado quase duas décadas antes, em 1978, no West End de Londres. O certo é que Lloyd Webber e o seu letrista, Tim Rice, não quiseram ficar fora da corrida e compuseram um novo tema, uma espécie de lamento final da personagem de Eva Peron que Madonna interpreta com metódico intimismo — chama-se “You Must Love Me” e, já agora, convém acrescentar que ganhou mesmo o Oscar de melhor canção de 1996.