8 Dez 2017 18:27
Nascido em Nova Iorque, em 1951, Abel Ferrara foi e continua a ser um dos nomes mais exemplares de um cinema genuinamente independente, ainda que sempre aberto à coexistência com elementos de outras áreas, nomeadamente integrando actores ligados às mais típicas produções de Hollywood — por exemplo, depois de títulos como “The Driller Killer” (1979) ou “Vingança de uma Mulher” (1981), em “O Rei de Nova Iorque” (1990) dirigiu Christopher Walken, actor fetiche de vários momentos da sua filmografia.
Em 1992, fez aquele que continua a ser, muito provavelmente, o seu filme mais famoso: “Polícia sem Lei”, uma reflexão sobre a fronteira instável entre o Bem e o Mal, centrada numa delirante composição de Harvey Keitel. Até que um grande estúdio, mais precisamente a Warner Bros., o convidou para fazer um filme de ficção científica, “Body Snatchers” (1993), entre nós “Violadores: a Invasão Continua” .
Na verdade, a Warner Bros. não ficou muito contente com o trabalho de Ferrara e, ao que parece, ele também não guarda as melhores memórias do filme. Logo a seguir, em 1993, realizou “Dangerous Game”, um admirável retrato dos bastidores do cinema, nunca estreado em Portugal: de novo com Harvey Keitel, nele surge Madonna numa brilhantíssima composição, ironicamente sem qualquer participação na banda sonora [trailer].
Ferrara continua a ser um exemplo extraordinário de alguém que se consegue mover nos mais diversos registos, mantendo o individualismo e a tenacidade de um verdadeiro independente. Já o vimos a dirigir um filme de vampiros, “Os Viciosos” (1995), uma história bíblica, “Maria Madalena” (2005), ou uma saga apocalíptica, “4:44: Último Dia na Terra” (2011). Sempre com uma relação visceral com a música. Por exemplo, no filme “Pasolini” (2014), sobre Pier Paolo Pasolini, Ferrara foi buscar os sons de Maria Callas, interpretando uma ária de “O Barbeiro de Sevilha” — “Una voce poco fa” .