07 Nov 2023
O festival Olhares do Mediterrâneo, que começa na quinta-feira em Lisboa, abordará o “atual dinamismo e efervescência de cinema feito por mulheres na Turquia” e propõe debates sobre ativismos.
A cumprir a décima edição, este festival dedica-se, desde a génese, a divulgar o cinema feito por mulheres que trabalham ou habitem no eixo dos países do Mediterrâneo, e este ano o foco estará na Turquia, um país onde o cinema “tem uma longa e rica história, mas uma história dominada por homens”, refere a organização.
Só a partir dos anos 1950 é que o panorama se alterou e atualmente, embora ainda não seja fácil, verifica-se um “dinamismo e efervescência de cinema feito por mulheres” no país, sustentou a direção do Olhares do Mediterrâneo, em comunicado.
Na Cinemateca Portuguesa – parceira do festival – serão mostrados nove filmes de realizadoras turcas, entre as quais Pelin Esmer, Yesim Ustaoglu e Belmin Soylemez.
O Olhares do Mediterrâneo abre no Cinema São Jorge com “You Resemble Me”, produção franco-egípcia da realizadora Dina Amer, sobre a radicalização de uma mulher nos subúrbios de Paris, a partir de uma história verídica ocorrida nos atentados de 2015 em França.
Da competição oficial fazem parte duas produções portuguesas: A ficção “Quatro mulheres ao pé da água”, de Cláudia Clemente, e o documentário “Uma situação temporária”, de Ânia Bento.
Na ficção, Cláudia Clemente retrata uma personagem ausente, um homem que acaba de morrer, através dos testemunhos de quatro mulheres: a mãe, a viúva, a amante e a filha dele.
Rodado a preto e branco, o filme é interpretado por Maria do Céu Guerra, Ana Padrão, Lara Li, Mina Andala e Miguel Borges.
“Uma situação temporária” é uma produção independente de Ânia Bento, que escreveu, produziu, realizou e interpretou.
Segundo a sinopse, o filme acompanha a vida de Ânia, de 34 anos, e de Olívia, de 24, que trabalham numa loja de bijuteria em Lisboa, para pagar as suas contas. “Através da repetição dos seus dias e da sua constante dificuldade em fazer face às despesas enquanto perseguem os seus sonhos, vislumbramos o sistema social-económico português”.
A competição de ‘curtas’ também apresenta várias produções portuguesas, todas de cinema de animação: “Foxtale”, de Alexandra Allen, “O casaco Rosa”, de Mónica Santos, e “O homem do lixo”, de Laura Gonçalves.
Em nota de imprensa, o festival lembra que foi criado com “uma dupla missão”: Dar visibilidade ao cinema das mulheres de países do Mediterrâneo e debater “temas socialmente impactantes”.
Este ano, os debates serão sobre “experiências e participações femininas na esfera pública”, sobre “ativismos artísticos, ambientais, políticos e sociais”, sobre habitação digna e sobre a radicalização das mulheres no autodenominado Estado Islâmico.
O festival estende-se até ao dia 16, mas o filme de encerramento, “Cinco Lobitos”, produção espanhola de Alauda Ruiz de Azúa, será mostrado no dia 12, domingo.
Desde a criação, em 2014, o festival contou com cerca de 25 mil espectadores, entre os quais mais de 10 mil estudantes, a quem foi dada a possibilidade “de ver obras que muito dificilmente entram nos circuitos comerciais”, afirmou a organização.
O festival é organizado pelo Grupo Olhares do Mediterrâneo e pelo Centro em Rede de Investigação em Antropologia.