26 Out 2014 22:38
O tema da emigração é, obviamente, transversal na história do cinema americano — de "O Emigrante" (1917), de Charlie Chaplin, a "A Emigrante" (2013), de James Gray, são muitos os títulos que, em registos dramáticos muito diversos, abordaram a construção dos EUA através daqueles que chegaram de fora, em busca do American Dream.
O exemplo (admirável!) de "Gangs de Nova Iorque", de Martin Scorsese, é tanto mais intenso quanto discute a consolidação da identidade mítica da América num dos seus cenários de eleição. A saber: as ruas. Era esse, aliás, o sentido da frase promocional dos cartazes do filme: “A América nasceu nas ruas” — a origem mítica da nação não pode excluir a carga de violência que marcou a geografia ainda indefinida de Nova Iorque na altura de consolidação da grande metrópole, em meados do séc. XIX.
Através do confronto dos grupos liderados pelas personagens de Leonardo DiCaprio e Daniel Day-Lewis, Scorsese encena a difícil passagem de um estado de guerra, primitivo e selvagem, para a lógica e a ordem que definem, ou podem definir, uma comunidade de seres humanos — sendo um filme histórico, GANGS DE NOVA IORQUE é também uma viagem em que a história se confunde com o sonho, por vezes com o pesadelo.