3 Nov 2016 3:34
Muitas vezes se diz que, em 1959, com a Nova Vaga francesa e, em particular, com o filme "À Bout de Souffle/O Acossado", de Jean-Luc Godard, foi o cinema moderno que começou. E o caso não é para menos. Afinal de contas, Godard e alguns cúmplices como François Truffaut, Eric Rohmer ou Claude Chabrol refizeram toda a paisagem cinematográfica, inventando novas histórias e, sobretudo, novas maneiras de as contar.
Isso mesmo vai ser possível (re)descobrir no Lisbon & Estoril Film Festival: a partir de 4 de Novembro, o certame propõe uma retrospectiva que se apresenta como integral e um simpósio intitulado "Godard visto por…" — oportunidade privilegiada para percorrer uma obra imensa e multifacetada, sempre apostada em afirmar o cinema como linguagem específica e pensamento sobre o mundo. Até ao recente "Adeus à Linguagem" (2014), genial experiência com o 3D.
Acima de tudo, este é um evento capaz de mostrar que a definição de Godard como um "experimentalista" é sempre escassa: através da experimentação, ele foi e continua a ser um criador empenhado em discutir o seu presente, da política à sexualidade, do amor à filosofia. Eis cinco pistas para nos relançarmos na fascinante aventura da(s) história(s) godardiana(s).
* HISTÓRIA(S) DO CINEMA (1989-1998)
A prova muito real de que o video nunca foi, para Godard, um mero "gadget", antes um instrumento de trabalho capaz de interrogar e transfigurar a percepção tradicional da história do cinema e da história mais global — é a sua obra mais monumental e, à sua maneira, também mais didáctica.
> Monumental, dia 5, 14h00
* PEDRO O LOUCO (1965)
Símbolo central da Nova Vaga, este é o filme de celebração (e também decomposição) de todas as ilusões românticas: uma viagem "terna e cruel" pela França, vivida pelo par Anna Karina/Jean-Paul Belmondo.
> Monumental, dia 6, 16h00 (com a presença de Anna Karina e Jean Douchet)
* TUDO VAI BEM (1972)
É o título que encerra a chamada "fase militante". Ou seja: o par interpretado por Jane Fonda e Yves Montand reavalia as ilusões e desilusões de um tempo (Maio 68 e suas heranças) em que, além do mais, as relações homem/mulher não encontraram qualquer espécie de redenção.
> Nimas, dia 7, 19h30
* VENT D’EST (1970)
Precisamente, um dos emblemas da "fase militante", equacionando as euforias e impasses de uma hiper-politização do quotidiano que, de uma maneira ou de outra, questionou a própria maneira de fazer política. Produzido, tal como os outros títulos deste período, pela televisão, é uma das raridades absolutas desta retrospectiva.
> Monumental, dia 10, 14h00
* JLG POR JLG (1994)
O cinema como indústria colectiva? Ou o cinema como afirmação da irredutibilidade individual? Como o título sugere, este será o exercício mais autobiográfico de toda a trajectória de Godard, mostrando como o fulgor do novo nasce (ou pode nascer) do militante respeito pelo velho — rodado em video, possui a nobreza do mais primitivo ensaio com película.
> Nimas, dia 11, 14h00