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06 Set 2025

O realizador norte-americano Jim Jarmusch ganhou inesperadamente o cobiçado Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza, no sábado, com “Father Mother Sister Brother”, uma meditação em três partes sobre os laços desconfortáveis entre pais e filhos adultos.

Dividido em capítulos passados em Nova Jérsia, Dublin e Paris, o filme conta com um elenco composto por Tom Waits, Adam Driver, Mayim Bialik, Charlotte Rampling, Cate Blanchett, Vicky Krieps, Indya Moore e Luka Sabbat. Cada episódio passa suavemente por encontros domésticos onde nada de especial acontece, mas pequenos gestos e silêncios esboçam a estranheza geracional que pode afetar as famílias.

“Agradeço-vos por apreciarem o nosso filme calmo”, disse Jarmusch, que é um dos pilares do cinema independente americano, tendo-se tornado conhecido nos anos 80 com obras excêntricas e de baixo orçamento, como “Stranger Than Paradise” e “Down by Law”.

O seu último filme recebeu críticas bastante positivas, mas não era um dos favoritos ao prémio principal, tendo muitos críticos preferido “A Voz de Hind Rajab”, um relato real e pungente do assassinato de uma menina palestiniana de cinco anos durante a guerra de Gaza.

No final, o filme realizado por Kaouther Ben Hania, da Tunísia, ficou com o Leão de Prata do Grande Prémio do Júri.

O italiano Toni Servillo recebeu a Taça Volpi para melhor ator pelo seu retrato irónico de um presidente cansado e em fim de mandato em “La Grazia”, realizado pelo seu colaborador de longa data Paolo Sorrentino. A chinesa Xin Zhilei ganhou o mesmo galardão do lado feminino pelo seu papel em “The Sun Rises On Us All”, drama realizado por Cai Shangjun que aborda questões de sacrifício, culpa e sentimentos não resolvidos entre amantes afastados que partilham um segredo obscuro.

O palmarés da seleção oficial completou-se com o prémio para o melhor argumento, atribuído a Valérie Donzelli e Gilles Marchand, pelo filme “À Pied D’Oeuvre”; e com o prémio Marcello Mastroianni para o ator ou atriz revelação, entregue a Luna Wedler pelo trabalho em “Silent Friend”, de Ildikó Enyedi;

Gaza em destaque

A realizadora Kaouther Ben Hania ao receber o Leão de Prata.

Veneza é frequentemente vista como o mais glamoroso e menos político dos grandes festivais de cinema, mas em 2025 os filmes que causaram maior impacto centraram-se na atualidade, com a invasão israelita de Gaza a lançar uma longa sombra.

Ao apresentar o seu filme no fim de semana passado, Jarmusch reconheceu que estava preocupado com o facto de a Mubi, um dos seus principais distribuidores, ter recebido dinheiro de uma empresa com ligações ao exército israelita.

O filme “A Voz de Hind Rajab”, que utiliza o áudio real dos pedidos desesperados de ajuda de uma jovem quando o seu carro é atingido pelo exército israelita, foi aplaudido de pé durante 24 minutos, um recorde, na sua estreia. “O cinema não pode trazer Hind de volta, nem pode apagar a atrocidade cometida contra ela. Nada pode restaurar o que foi tirado, mas o cinema pode preservar a sua voz, fazê-la ressoar para além das fronteiras”, disse a realizadora Kaouther Ben Hania no sábado à noite. “A sua voz continuará a ecoar até que a responsabilidade seja real, até que a justiça seja feita”.

O prémio de melhor realização foi entregue a Benny Safdie por “The Smashing Machine”, que conta com a participação de Dwayne Johnson no papel do pioneiro das artes marciais mistas Mark Kerr.

O prémio especial do júri foi para Gianfranco Rosi pelo documentário a preto e branco “Debaixo das Nuvens”, sobre a vida na caótica cidade de Nápoles, no sul do país, marcada por repetidos terramotos e pela ameaça de erupções vulcânicas.

Entre os filmes que saíram de Veneza de mãos vazias, encontramos o trio de filmes da Netflix: o thriller nuclear de Kathryn Bigelow “A House of Dynamite”, a releitura de Guillermo del Toro de “Frankenstein” e a comédia dramática de Noah Baumbach “Jay Kelly”.

O filme sul-coreano “No Other Choice”, de Park Chan-wook, também não conseguiu obter um prémio, apesar das boas críticas, tal como “Bugonia”, de Yorgos Lanthimos, protagonizado por Emma Stone.

O júri foi presidido pelo realizador norte-americano Alexander Payne, a que se juntaram os cineastas Stéphane Brizé, Maura Delpero, Cristian Mungiu e Mohammad Rasoulof, bem como as atrizes Fernanda Torres e Zhao Tao.

  • CINEMAX - RTP c/ Reuters
  • 06 Set 2025 21:02

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