

Jude Law como o mestre do Kremlin
O ator encara sem receios o desafio de interpretar Vladimir Putin em "The Wizard of the Kremlin", filme de Olivier Assayas que retrata os bastidores da ascensão do líder russo e compete pelo Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza.
Jude Law analisou imagens do Presidente russo Vladimir Putin até ao ponto da “obsessão” para preparar o seu papel em “The Wizard of the Kremlin”, um filme que examina a dinâmica do poder em Moscovo, apresentado no domingo no Festival de Veneza.
Em 2024, um filme sobre a ascensão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (“O Aprendiz”), causou furor após ser exibido em Cannes
Desta vez, é o homem forte do Kremlin, no poder desde 2000, que é levado ao ecrã. Para este papel, o ator britânico usou uma peruca e começou a praticar judo.
“É espantoso o que se pode fazer com uma boa peruca”, gracejou numa conferência de imprensa. O Presidente do Parlamento Europeu explicou que, inicialmente, sabia pouco sobre a vida e a personalidade de Vladimir Putin e que se tinha baseado nas imagens e vídeos que circulavam sobre ele. A certa altura, “torna-se uma espécie de obsessão, estamos sempre à procura de material mais recente”.
“Não tive medo de quaisquer repercussões. Senti-me confiante nas mãos do Olivier (Assayas, o realizador) e o guião era uma história que ia ser contada de forma inteligente, com nuances”, acrecentou o ator de 52 anos.
Mas “The Wizard of the Kremlin” não é um filme sobre a ascensão de Putin ao poder. É uma longa-metragem sobre “a transformação da política”, segundo Olivier Assayas, de 70 anos, sobretudo para as pessoas da sua geração.
Adaptado do romance best-seller de Giuliano da Empoli, o filme segue a carreira de Vadim Baranov (Paul Dano), o conselheiro-sombra de Vladimir Putin, inspirado em Vladislav Sourkov, a eminência parda do político russo.
Desde o desmembramento da URSS, no início dos anos 90, até à anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, o filme relata mais de duas décadas da vida política russa, marcadas pela ascensão ao poder de Vladimir Putin – “o czar”, como lhe chama Vadim Baranov.
Rodado na Letónia, o filme pretende ser um relato ficcional elucidativo do funcionamento do poder na Rússia e do espírito de vingança que prevalece contra o Ocidente.
Apresenta uma galeria de personagens que fizeram manchetes nos últimos anos, incluindo Yevgeny Prigozhin, antigo chefe do grupo de mercenários Wagner, e o oligarca Boris Berezovsky, ambos já falecidos.
O filme foi rodado inteiramente em inglês. Uma escolha óbvia para o argumentista e autor francês Emmanuel Carrère, conhecedor da Rússia, que se sentiu com autoridade para o fazer graças ao sucesso da série “Chernobyl”.
Filme em risco por falta de financiamento
Encontrar os fundos necessários para produzir “The Wizard of the Kremlin” foi difícil, sobretudo devido aos laços de alguns investidores com a Rússia, admitiu na segunda-feira Olivier Assayas.
“Não se pode saber de antemão como o filme vai ser entendido, ou o quanto o Kremlin não vai gostar dele” explica o realizador. “Tivemos de encontrar pessoas que não tivessem qualquer ligação com a Rússia (…) e que não tivessem nada a ver com a política”, disse, acrescentando que vários investidores com ligações à Rússia recusaram.
“A dificuldade é que o filme é sobre política e toda a gente tem medo disso”, explicou Assayas. “Deparámo-nos com muitas portas fechadas e o processo foi muito doloroso”, continuou.
“Passei cerca de um ano a pensar que o filme ia ser feito num dia e no outro não, porque de repente perdíamos o financiamento, ou não conseguíamos chegar a um determinado acordo”, revelou o realizador de “Carlos”.
Olivier Assayas explica que esteve envolvido nas discussões sobre o financiamento do filme, algo que não costuma fazer. “É um pequeno milagre que tenhamos conseguido concluir o projeto desta forma”, sublinha.
Fotos: La Bienale de Venezia