18 Mai 2019 1:27
Ken Loach? É um dos nomes do "clube" de Cannes. O veterano inglês regressa regularmente ao certame da Côte d’Azur e já tem duas Palmas de Ouro, com "Brisa de Mudança" (2006) e "Eu, Daniel Blake" (2016). Este último, quando surgiu, veio acompanhado do voto de Loach se reformar… O certo é que depois do "último filme", aí está outro — e do melhor que Loach nos tem oferecido na sua militante fidelidade ao realismo britânico.
Escusado será relembrar que Loach é um cineasta eminentemente político, no sentido em que se mantém atento às grande convulsões (laborais, em primeiríssimo lugar) do Reino Unido, embora sem nunca reduzir as suas personagens a meras "ilustrações" de temas genéricos. Assim volta a acontecer em "Sorry We Missed You", admirável retrato de uma família inglesa da actualidade.
Ricky Turner (Kris Hitchen), o pai, é alguém que aceita trabalhar numa empresa de entrega de encomendas ao domicílio, numa situação de enorme fragilidade financeira, já que ele próprio tem de comprar o carro em que executa as suas tarefas… A partir daí, aquele universo de quatro pessoas (completado pela mãe e dois filhos, um rapaz adolescente e uma menina) vai ser sujeito a permanentes ameaças de desagregação.
O que continua a ser exemplar no labor narrativo de Loach é a sua capacidade de desenvolver uma ficção hiper-trabalhada (o argumento é do seu habitual colaborador, Paul Laverty) sem nunca perder as sensações de uma realidade ao vivo, dir-se-ia uma reportagem quase instintiva. Não será arriscado supor que, com maior ou menor evidência, "Sorry We Missed You" pode muito bem estar no palmarés.