30 Nov 2018 22:34
No passado mês de Maio, o japonês Hirokazu Kore-eda arrebatou a Palma de Ouro de Cannes com “Shoplifters”, agora lançado entre nós com o subtítulo “Uma Família de Pequenos Ladrões”. A história que o filme conta pode parecer bizarra, ou mesmo burlesca, mas o certo é que prolonga com absoluta coerência o tema fulcral de Koreeda. A saber: a vulnerabilidade dos laços entre pais e filhos.
Para muitos de nós, a descoberta de Kore-eda começou com “Ninguém Sabe” — tem data de 2004 e faz o retrato, terno e angustiado, de um grupo de crianças abandonadas pelos pais, sobrevivendo, como podem, num pequeno apartamento de Tóquio, sob o comando da irmã mais velha de 12 anos de idade. Há, aqui, um apurado sentido dramático que se reflecte também, de forma desconcertante, em “Tal Pai, Tal Filho”, uma produção de 2013.
“Tal Pai, Tal Filho” é a história de duas famílias, de diferentes extractos sociais, cujos filhos foram acidentalmente trocados à nascença. O que Kore-eda filma não é o mistério policial que a história contém, antes o modo como a família funciona como núcleo vivo de todos os valores que vão marcar o destino de cada um — é essa mesma questão que, com especial emoção, também está presente no filme que Koreeda assinou em 2008 e que se chama apenas “Andando”.
Hirokazu Kore-eda consegue ser absolutamente universal sem nunca deixar de ser visceralmente japonês — é isso, sem dúvida, que ajuda a explicar o seu importa reconhecimento internacional. Um dos seus mais curiosos desvios temáticos será “O Terceiro Assassinato”, uma reflexão sobre os caminhos do Bem e do Mal, tendo como peça central um homem que confessa ter assassinado o seu patrão.