31 Jan 2016 16:02
No seu mais recente filme, "No Coração do Mar", Ron Howard evoca a odisseia do navio Essex que serviu de base a Herman Melville para escrever o monumental romance "Moby Dick", publicado em 1851. Seria adaptado várias vezes ao cinema, desde o período mudo e incluindo alguns desenhos animados — em qualquer caso, a versão mais célebre data de 1956 e tem assinatura de John Huston.
Provavelmente, "Moby Dick" é um daqueles livros dos quais se pode dizer que não é possível transpor a sua energia e a sua complexidade para um filme, mesmo relativamente longo. Em qualquer caso, o trabalho deste objecto de cinema — e, em particular, do seu argumentista Ray Bradbury — conferiu especial energia à acção na figura do capitão Ahab (Gregory Peck) e no seu confronto com a baleia gigante.
Importa, assim, olhar para "Moby Dick", não através dos padrões que foram impostos (por vezes de forma muito maniqueísta) pelos modernos efeitos especiais, mas sim não esquecendo que se trata de uma produção ainda típica da idade clássica de Hollywood. 1956 foi, nesse aspecto, um ano particularmente rico — além de "Moby Dick", surgiram filmes grandiosos como "Os Dez Mandamentos", de Cecil B. De Mille, e "Guerra e Paz", de King Vidor.
Na trajectória de John Huston, "Moby Dick" foi uma confirmação plena das suas qualidades como encenador dos grandes dramas humanos, sempre com um apurado sentido de espectáculo — antes, tinha assinado títulos tão diversos como "Sob a Bandeira da Coragem" (1951), "A Rainha Africana" (1951) e "Moulin Rouge" (1952). Embora "Moby Dick" não tenha chegado aos Oscars, o filme valeu-lhe o prémio de melhor realizador do ano atribuído pela associação nacional de críticos, National Board of Review.