10 Dez 2024
O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, disse haver “muitos festivais” com mais financiamento do que o Tribeca e referiu que a autarquia aumentou o orçamento destinado à cultura para poder ajudar mais eventos do género.
Questionado pelos jornalistas sobre os critérios e procedimentos tidos em conta para aprovar a transferência de dinheiro para o financiamento do Tribeca Festival Lisboa, Carlos Moedas afirmou que atualmente, na capital, há “muitos festivais que têm muito mais financiamento” do que o que decorreu em 18 e 19 de outubro no Hub Criativo do Beato, com filmes, conversas e atuações musicais.
“O caso do LEFFEST de Paulo Branco, o DocLisboa, todos os outros – nós aumentámos o orçamento para a cultura exatamente para poder ajudar mais festivais”, explicou o social-democrata à entrada para o Seminário em Ética, Integridade e Prevenção da Corrupção, destinado a cerca de mil trabalhadores da autarquia, no Dia Internacional contra a Corrupção.
Moedas referiu que muitos dos festivais que acontecem pela cidade “não são ajudados diretamente pela Câmara, mas por empresas municipais”, como é o caso da Lisboa Cultura/EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural ou da Turismo de Lisboa, “quando têm esse pendor”.
“Portanto, (os apoios são feitos) dentro da normalidade e teremos cada vez mais destes festivais. Eles são importantes para a cidade, trazem retorno económico, mas trazem sobretudo Lisboa como centro da cultura mundial e isso é aquilo que eu sonho para a cidade, que é a cidade da inovação, tecnologia, mas também da cultura”, sublinhou.
A organização do Tribeca Festival Lisboa recebeu 750 mil euros de apoios públicos, incluindo 250 mil do município lisboeta.
A vereadora do BE questionou o presidente da autarquia sobre o motivo de o financiamento não ter sido votado pelo executivo municipal. Num requerimento ao presidente, o BE referiu ter sido divulgado que a estação televisiva SIC, do grupo de comunicação social Impresa, “recebeu 750 mil euros de fundos públicos para organizar” o Tribeca Festival Lisboa – 250 mil euros do Turismo de Portugal, 250 mil euros do Turismo de Lisboa (da qual o município é um dos associados fundadores) e 250 mil euros da EGEAC.
“Este apoio foi atribuído sem que houvesse uma decisão pública ou deliberação em reunião de câmara”, apontou a vereadora bloquista Beatriz Gomes Dias, constatando que “o preço de acesso a este festival foi de 130 euros para dois dias, um preço inacessível para a maioria dos lisboetas”.
As questões do BE tiveram origem numa notícia da revista Sábado que cita o relatório de execução financeira do festival, remetido pela SIC/Impresa à EGEAC para receber os 250 mil euros.
Segundo a revista, a câmara organizou também um jantar privado com atores e apresentadores, com base em fotos partilhadas nas redes sociais ao lado do ator Robert De Niro, admitindo tratar-se de uma despesa que consta no Portal Base, de 6.230 euros, adjudicada por ajuste direto à empresa As Patrícias – Food at Home para “aquisição de um jantar para o evento Tribeca Film Festival”.
Além dos apoios públicos, o Tribeca arrecadou 615 mil euros de patrocínios, 95 985 euros de bilheteira e 3 389 euros de venda de comida e bebidas, totalizando 1 464 374 euros de receitas, mas as despesas somaram 1 825 168 euros, resultando num prejuízo de 360 794 euros.
Fonte oficial da Associação de Turismo de Lisboa, presidida por inerência por Carlos Moedas, enquanto presidente da câmara, confirmou à Lusa que “foi aprovada uma candidatura no valor de 250 mil euros, ao abrigo do Programa de Apoio a Eventos Promocionais”.
O regulamento do programa prevê o apoio a eventos que “demonstrem relevância turística e capacidade de gerar fluxos turísticos” ou que, pelo “seu posicionamento ou imagem internacional, possam aumentar a notoriedade ou projetar a imagem da marca Lisboa”.
O ator Robert de Niro e a produtora Jane Rosenthal elogiaram Lisboa como anfitriã, pela primeira vez fora dos Estados Unidos, do festival Tribeca, que fundaram em Nova Iorque, mas não revelaram por quantas edições ficará o evento em Portugal.
Durante dois dias, o programa contou com sessões de cinema, concertos, gravação de ‘podcasts’ e conversas com algumas figuras de Hollywood e pessoas do entretenimento em Portugal, mas as deficientes condições de exibição e a reduzida oferta de filmes, além do preço elevado dos bilhetes, motivaram algumas críticas de participantes.