No papel do Capitão Von Trapp —

5 Fev 2021 23:27

Notável actor de teatro, de formação "shakespeariana", figura muito popular do cinema, Christopher Plummer faleceu no dia 5 de fevereiro, em sua casa, no Connecticut, na sequência de uma queda — contava 91 anos.

Para várias gerações de espectadores, Plummer, canadiano nascido em Toronto a 13 de dezembro de 1929, foi acima de tudo a figura autoritária, mas de bom coração, do Capitão Von Trapp, contracenando com Julie Andrews em "Música no Coração" (1965), de Robert Wise.
Mais recentemente, bateu um recorde da história dos Óscares, ao vencer na categoria de melhor actor secundário graças à sua participação em "Beginners / Assim É o Amor" (2010), de Mike Mills — a sua interpretação de um velho senhor que, atingido por um cancro terminal, se assume perante o filho como homossexual, tornou-o, aos 82 anos, o mais velho premiado de sempre nas categorias de interpretação.
Em 2017, voltou a ter destaque nas notícias por causa da sua composição do multimilionário John Paul Getty em "Todo o Dinheiro do Mundo" (2017), de Ridley Scott, substituindo Kevin Spacey, afastado na sequência de acusações de abuso sexual. Não terá ficado como um dos momentos marcantes da filmografia de Plummer, ainda que ele fosse a escolha inicial de Scott (Spacey tinha sido imposto pelo estúdio produtor).
Em qualquer caso, "Todo o Dinheiro do Mundo" valeu a Plummer a sua terceira e última nomeação para um Óscar, sempre na categoria de secundário. A primeira ocorrera com "A Última Estação" (2009), de Michael Hoffman, drama histórico em que recriou a figura de Lev Tolstói [clip com James McAvoy].


A sua carreira cinematográfica iniciou-se com "Lágrimas da Ribalta" (1958), de Sidney Lumet, "A Floresta Interdita" (1958), de Nicholas Ray, e "A Queda do Império Romano" (1964), de Anthony Mann, numa altura em que se impunha também como um notável actor dos palcos.

"O Homem que Queria Ser Rei" (1975), de John Huston, misto de epopeia e aventura picaresca em que contracenava com Sean Connery e Michael Caine, seria, segundo a sua própria avaliação, um momento decisivo na sua evolução profissional — pertencia-lhe a personagem do escritor Rudyard Kipling.

Capaz de oscilar entre a pose severa, quase impenetrável, e uma ironia cáustica, vimo-lo, por exemplo, em "Os Olhos da Testemunha" (1981), de Peter Yates, "Star Trek VI: O Continente Desconhecido" (1991), de Nicholas Meyer, "Malcolm X" (1992), de Spike Lee, "12 Macacos" (1995), de Terry Gilliam, "O Informador" (1999), de Michael Mann, "Ararat" (2002), de Atom Egoyan, ou "Syriana" (2005), de Stephen Gaghan [trailer].


"In Spite of Myself" (à letra: "Apesar de mim") é o título das suas memórias, publicadas em 2008. A comédia policial "Knives Out: Todos São Suspeitos" (2019), de Rian Johnson, foi um dos seus derradeiros trabalhos.

As palavras de abertura do seu discurso de agradecimento do Óscar entraram para a história da Academia de Hollywood como um delicioso momento de ironia: "Meu querido, és apenas dois anos mais velho do que eu. Por onde andaste durante toda a minha vida?" .


  • cinemaxeditor
  • 5 Fev 2021 23:27

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