13 Abr 2020 23:33
Sarah Maldoror é uma figura pioneira na história do cinema africano, em particular no retrato crítico do colonalismo e da Guerra Colonial portuguesa — faleceu no dia 13 de abril, em Paris, contava 90 anos.
Nasceu em França, em 1929, filha de mãe francesa e pai natural de Guadalupe. De seu nome Sarah Durados, escolheu o apelido artístico Maldoror em homenagem ao poeta Lautréamont, autor de "Os Cantos de Maldoror".
Estudou artes dramáticas, tendo fundado, em Paris, em meados dos anos 50, a companhia Les Griots, a primeira constituída por actores caribenhos e africanos. Foi casada com o poeta e político angolano Mário Pinto de Andrade (1928-1990), fundador e primeiro presidente do MPLA.
No começo da década de 60, com Mário Pinto de Andrade, obteve uma bolsa para estudar cinema em Moscovo, aí travando conhecimento com Ousmane Sembène, cineasta senegalês, autor de "Xala" (1975) e "Ceddo" (1977), tradicionalmente identificado como "pai do cinema africano".
A sua primeira realização, a curta-metragem "Monangambé", adaptava uma novela de Luandino Vieira. O mesmo escritor serviu de inspiração a "Sambizanga" (1972), título central da sua filmografia; nele se faz o retrato de um militante pela libertação de Angola, preso pela polícia política portuguesa — o filme chegou às salas portuguesas poucos meses depois do 25 de abril, em outubro de 1974.
Numa fase posterior do seu trabalho, assinou diversos títulos documentais sobre personalidades da vida artística e cultural, incluindo o fotógrafo Robert Doisneau, o poeta Aimé Césaire e o estilista Emanuel Ungaro. Em 2017, foi homenageada no Festival de Berlim, tendo participado numa conversa/debate sobre "Monangambé".
Em 1998, a realizadora Anne-Laure Folly dedicou-lhe o documentário "Sarah Maldoror ou la nostalgie de l’utopie".