25 Mai 2017 1:48
No final da projecção de imprensa de "The Beguiled", o filme de Sofia Coppola que concorre para a Palma de Ouro, um espectador tinha um desabafo entre a ironia e o desencanto: eis um filme de que queríamos gostar muito, mas não é fácil…
Que faz, então, a realizadora com os temas e personagens do filme homónimo de Don Siegel, produzido em 1971, com Clint Eastwood e Geraldine Page (chamou-se entre nós "Ritual de Guerra")? Pois bem, tenta "desviar" o drama para uma dimensão de exaltação do feminino.
De forma esquemática, lembremos que se trata de uma história da Guerra Civil americana, centrada num soldado do Norte (Colin Farrell) que é salvo pelas habitantes de um internato feminino dirigido por uma mulher tão serena quanto imprevisível (Nicole Kidman) — ele quer curar-se e partir; elas querem entregá-lo aos soldados do Sul…
Infelizmente, Sofia Coppola parece não ter ideias claras sobre a possibilidade de fazer um western revivalista ou optar pelos sobressaltos de um típico clima de suspense. Os resultados apresentam-se, assim, algo amorfos e indefinidos, como se bastasse o esquematismo da meta-linguagem (um western sobre as memórias do western…) para sustentar o projecto. E desse impasse nunca se sai, mesmo quando as situações parecem prometer alguma genuína vibração emocional.
Trata-se do único título da competição de Cannes com chancela de uma grande estúdio de Hollywood (Universal). Seja como for, essa condição não pesará, por certo, nas deliberações do júri, sendo também duvidoso que o filme consiga encontrar grande visibilidade nos mercados internacionais — isto apesar dos nomes do seu elenco (há ainda Elle Fanning e Kirsten Dunst) e da óbvia competência técnica de toda a sua fabricação.