18 Out 2024
“O Teorema de Marguerite” parte da paixão pela matemática que se vive tal como se vivem as paixões artísticas. Marguerite é uma jovem matemática genial que vive para a ciência num mundo feito de números e equações.
O papel é da atriz suíça Ella Rumpf que interpreta a jovem de 26 anos prestes a concluir o doutoramento.
É uma rapariga muito apaixonada pela matemática, pelo tema em que está a trabalhar. Está a tentar resolver a conjetura de Goldbach.
Há algo de quase sacrifício na matemática. Depois é confrontada com o facto de ter de enfrentar a realidade e interessar-se por algo mais para além da matemática. Interessar-se por algo mais do que aquilo em que se tem concentrado.
A atriz Ella Rumpf redescobre a matemática com a ajuda da Ariane Mézard, investigadora da Escola Normal Superior de Paris. O desafio foi mostrar na tela a paixão por uma disciplina que não era a preferida no tempo do liceu.
Fiquei completamente traumatizada com a matemática. Para mim, era a razão pela qual não queria ir para a escola.
Por isso, no início, tive muito, muito medo de fazer este filme. Redescobri a matemática de uma forma diferente através deste filme. Especialmente porque o trabalhei e preparei com uma das maiores matemáticas e investigadoras francesas, com quem discuti a matemática e que me fez realmente perceber o que é esta ciência.
Penso que criei realmente uma nova ligação com a disciplina. Como não gostava de matemática, a grande questão que me coloquei antes de fazer o filme foi como tornar esta disciplina interessante para mim e para as outras pessoas.
Marguerite, uma estudante excecional, dedica-se a procurar a resolução da conjetura de Goldbach, um problema de matemática ainda por resolver.
No dia da apresentação da tese final, perante uma plateia de investigadores, um erro leva ao desmoronamento do sonho. É preciso deixar tudo para trás e começar de novo.
O papel de Marguerite deu a Ella Rumpf o prémio César de Revelação Feminina, uma distinção do cinema francês. A atriz diz que o rumo da personagem vai surpreender.
Descobre os sentimentos, a empatia, o amor, a ligação aos outros. E como isso também pode ser enriquecedor para a sua investigação matemática no final.
Recordações de uma doença na juventude, quando esteve seis meses fechada em casa, motivaram a cineasta Anna Novion a fazer um filme sobre essas emoções.
Queria falar de um período que atravessei quando tinha 20 anos, em que estive doente. Tive de ficar isolada, fechada em casa, durante seis meses.
Foi ao recordar esse período que me deu vontade de fazer este filme. Perguntei-me como poderia transmitir todos aqueles sentimentos e emoções porque tinha passado.
No início, pensei nas grandes universidades, dizendo a mim própria que eram pessoas que podiam estar isoladas do mundo, que estavam fechadas no trabalho, que passavam muito tempo no quarto a trabalhar e sem viver o espírito despreocupado da juventude.
Para me inspirar, visitei várias vezes a Escola Normal Superior de Paris, onde conheci vários matemáticos. Foi crucial para fazer o filme ter-me cruzado com Ariane Mézard, uma das grandes matemáticas francesas.
As visitas à Escola Normal Superior em Paris e o encontro de Anna Novion com a investigadora e professora universitária Ariane Mézard despertaram na realizadora a curiosidade pela descoberta da matemática e a vontade de fazer um filme sobre esta ciência.
A forma como Ariane falava do trabalho fazia-me lembrar o meu trabalho. Falava de paixão, de sacrifício, de fé, de nunca largar esta obsessão, do risco de procurar teoremas durante vários meses, vários anos, sem ter a certeza de encontrar nada.
Foram estes paralelismos entre o meu trabalho e o dela que me fizeram gradualmente pensar que havia um verdadeiro filme a fazer. Um filme que estabeleceria um paralelo entre a criação matemática e a criação artística.
As equações vistas no filme são verdadeiras. A conjetura de Goldbach, que Marguerite quer provar, é um problema que ainda não foi resolvido.
Para criar o ambiente de uma faculdade onde se estuda matemática ao mais alto nível, a realizadora francesa filmou numa instituição universitária francesa de prestígio.
Filmamos na Escola Normal Superior de Paris. Tivemos a sorte de a autorizarem, porque não permitem muitas filmagens. De facto, tivemos de passar numa prova oral perante um comité. Senti-me um pouco como a Marguerite no filme, que teve de fazer uma prova oral, exceto que não cometi erros como ela. Tivemos muita sorte.
Era uma boa ideia filmar lá, porque tinha passado muito tempo a conhecer muitos dos matemáticos da faculdade, a andar pelos corredores, a absorver o ambiente. Para mim, era primordial poder filmar nesta escola.
O bairro chinês em Paris foi outro local escolhido por Anna Novion para a rodagem. Permitiu ter acesso ao jogo de mesa Mahjong, um universo onde se movimenta a personagem Marguerite.
Apreciei a ideia de fazer a rodagem no bairro chinês de Paris, que é uma zona raramente filmada no cinema francês. Achei também interessante, porque queria mostrar uma cidade que contrasta com a Paris da Escola Normal Superior, que é uma Paris mais velha, mais tradicional, uma Paris cidade-museu.
Foi bom filmar numa Paris que é mais caótica, mais moderna, também com torres altas. Era muito cinematográfico. Ao mesmo tempo, alimentou a ideia de ver a personagem Marguerite imersa no mundo do Mahjong e de ter acesso a ambientes que raramente são filmados.