23 Fev 2015 17:24
Antes dos Óscares falou-se muito sobre a falta de diversidade nas escolhas da Academia, especificamente a falta de candidaturas para "Selma", o filme inspirado na marcha da liberdade protagonizada por Martin Luther King.
Mas durante a cerimónia, diversos discursos valorizaram outros temas como imigração, suicidio, Alzheimer e igualdade de salários para as mulheres.
IMIGRAÇÃO
Sean Penn causou espanto com uma referência que fez aos cartões verdes de imigração quando anunciou o Óscar de melhor filme e chamou Alejandro Gonzalez Iñarritu ao palco. Mas os dois são amigos e Iñarritu interpretou o comentário como uma piada. "Quem deu um cartão verde a esse filho da p…?" afirmou Penn. Iñarritu, que é mexicano, abraçou calorosamente Penn, e brincou dizendo que agora os serviços de imigração podem impor limites na Academia de cinema: "dois mexicanos numa linha é suspeito", afirmou relembrando que Alfonso Cuaron, outro realizador mexicano, foi premiado no ano passado com o Óscar de melhor realizador com "Gravidade".
Numa nota política salientou desejar que a "última geração de imigrantes possa ser tratada com a mesma dignidade e respeito com que foram tratados os que vieram
antes e construiram esta nação de imigrantes incrível ".
ELS e ALZHEIMER
Ao aceitar o prémio de melhor atriz por "O Meu Nome é Alice", Julianne Moore disse que o filme lança uma luz sobre a doença de Alzheimer: "pessoas com Alzheimer merecem ser vistas". Eddie Redmayne, aceitando o Óscar de melhor ator pela sua interpretação de Stephen Hawking em "A Teoria de Tudo" afirmou: "este Oscar pertence para todas as pessoas ao redor do mundo que sofrem de ELA (esclerose lateral amiotrófica)."
SUICÍDIO
Graham Moore, que ganhou o Oscar de melhor argumento adaptado com "O Jogo da Imitação ", revelou no seu discurso de aceitação que tinha tentado suicidar-se durante a adolescência. "Quando eu tinha 16 anos, eu tentei matar-me porque me senti estranho, diferente, como se eu não pertencesse aqui", disse ele." Eu gostaria de dedicar este momento a algum miúdo que esteja a ouvir e se sinta estranho, diferente, como se não pertencesse… Sim, você pertence."
DEMOCRACIA
Laura Poitras aproveitou o seu discurso de agradecimento do Óscar de melhor documentário atribuído a "Citizenfour" para notar que "as denuncias que Edward Snowden fez não revelam apenas ameaças à nossa privacidade, mas a toda a democracia."
Na sequência do discurso, quando Neil Patrick Harris assumiu a apresentação da cerimónia, foi célere a salientar que Snowen, "o objecto de ‘Citizenfour’, não podia estar aqui por alguma traição." Snowden vive exilado na Rússia e será preso se regressar aos Estados Unidos. O que os apoiam consideram-no um herói; os críticos acham que é um traidor.
IGUALDADE SALARIAL E MAIS PAPÉIS PARA MULHERES
Meryl Streep empolgou-se com o discurso de Patricia Arquette (Óscar de melhor atriz secundária em "Boyhood – Momentos de Uma Vida"). Gritou "Sim! Sim!", e apontou efusivamente para Patricia Arquette quando ela terminou o seu discurso de aceitação do Oscar onde fez uma chamada para os direitos das mulheres.
"Para cada mulher que deu à luz cada contribuinte e cidadão nesta nação: lutamos pela igualdade de direitos de todo mundo. É a nossa vez de ter igualdade salarial nos Estados Unidos."
O filme "Wild" não ganhou nada, mas as duas atrizes nomeadas, Reese Witherspoon e Laura Dern, também falaram sobre as mulheres que necessitam de melhores condições em Hollywood. Witherspoon disse que fundou a sua própria empresa de produção, porque "estava frustrada com os papéis disponíveis para mulheres." Laura Dern afirmou sentir "orgulho" por ser nomeada ao lado de Witherspoon e por serem "duas das 47 mulheres nomeadas" nesta edição dos Óscares. "Esperemos que o número duplique."
RACISMO
John Legend subiu ao palco ao lado do rapper Common, com quem dividiu o Óscar de melhor canção, "Glory", no filme "Selma".
Os dois músicos dedicaram o tempo disponível para o discurso em defesa dos direitos civis dos brancos, negros, mulheres, homossexuais, entre outros.
Legend salientou a atualidade do filme sobre a marcha de Luther King. "É dever de um artista refletir os tempos em que vivemos. Nós escrevemos essa canção para um filme baseado em eventos ocorridos há 50 anos atrás, mas nós afirmamos que ‘Selma’ ainda existe porque a luta por justiça existe agora mesmo".
"Nós sabemos que a lei eleitoral pela qual eles lutaram há 50 anos está comprometida agora mesmo [nos Estados Unidos], hoje. Vivemos no país com mais aprisionamentos do mundo. Há mais homens negros sob o controle corretivo hoje do que sob a escravatura em 1850. Quando as pessoas marcham com a nossa canção, nós queremos dizer que estamos convosco que vos vemos e amamos . E continuem marchando", concluiu Legend.