17 Mai 2014 12:54
Foi no Festival de Cannes que o cineasta turco Nuri Bilge Ceylan se tornou um nome internacionalmente conhecido e reconhecido, aliás arrebatando dois Grandes Prémios (a distinção mais importante, logo depois da Palma de Ouro) com "Uzak – Longínquo" (2002) e "Era uma Vez na Anatólia" (2011). Agora, de novo na competição com "Winter Sleep", podemos dizer que Ceylan ressurge como um dos mais fortes candidatos aos prémios principais – em qualquer caso, o seu filme fica, desde já, como um dos momentos altos desta 67ª edição do certame.
Como várias vezes acontece ao longo da sua obra, Ceylan encena uma situação cujas componentes (melo)dramáticas envolvem profundas formas de solidão. Mais exactamente, "Winter Sleep" centra-se num triângulo afectivo, unindo/separando um ex-actor (Haluk Bilginer) que dirige um pequeno hotel da Anatólia central, a sua mulher (Melisa Sozen) em relação a qual se parece agravar uma violenta distância afectiva e a irmã (Demet Akbag) a tentar curar as feridas de um recente divórcio.
Apoiado em longos e elaborados diálogos, verdadeiros tour de force de revelação das personagens (e dos actores), "Winter Sleep" possui a estrutura e o fôlego de uma admirável aventura sobre as cumplicidades e distâncias dos seres humanos. Pontuando a acção com subtis referências a actualidade política e religiosa, Ceylan faz um filme que revaloriza, afinal, o retrato psicológico, mesmo se há nele uma energia metafórica profundamente universal. Num filme em que os elementos paisagísticos são tão importantes, poderemos dizer que deparamos também com os acidentes das paisagens mais secretas e íntimas.