6 Set 2015 0:29
Eddie Redmayne parece estar destinado a cometer a proeza de ganhar dois
Óscares consecutivos – depois de ter sido premiado este ano no filme "A
Teoria de Tudo", pelo seu desempenho de Stephen Hawking, surge agora com um
papel igualmente impressivo em "The Danish Girl".
O ator britânico assume um homem que se confronta com a sua
identidade e que desafia as convenções sociais para assumir a sua
sexualidade. Trata-se do pintor dinamarquês Einer Weneger que se tornou num dos
primeiros homens a mudar de sexo através de intervenção cirúrgica.
Einer era casado e vivia confortável com essa relação matrimonial e amorosa. No entanto começou a sentir alguma
estranheza e perturbação quando percebeu que gostava de se vestir com roupas de
mulher e de posar assim para que a mulher Gerda (Alicia Vikander) o
pudesse retratar nos quadros que pintava.
Lili era como se chamava a mulher que Einar incorporava enquanto modelo. O que começou por ser uma brincadeira privada tornou-se numa situação perturbadora que o levou a procurar ajuda médica. Gerda foi sempre cooperante, mesmo quando Einer passou a assumir a identidade de Lili Elbe e decidiu submeter-se à operação.
A mudança de identidade e de personalidade é um trabalho de composição
extraordinário de Redmayne, que acentua a feminilidade da peronagem, anulando
completamente os traços de identidade masculinos. É mais uma composição psicológica e física e um papel que exige, novamente, dedicação a uma pessoa muito diferente.
Mas além dessa
transformação, estamos perante um drama de época que que não descura o
impacto dessa mudança no casal. É espantoso sentir o desamparo de Gerda,
que tudo faz para apoiar o marido, ficando progressivamente numa
situação de carência vendo o homem que ama transformar-se numa amiga
íntima.
É o filme mais conseguido de Tom Hooper, embora a reconstituição de época seja demasiado cuidada como sucedida em "O Discurso do Rei" – tem uma ótima fotografia mas os planos do filme revelam um enquadramento excessivamente formal, que contraria a natureza emocional e visceral deste drama de época e da atualidade do tema.