18 Dez 2016 19:42
Ao descobrirmos o filme "Tão Só o Fim do Mundo", que Xavier Dolan filmou a partir da peça teatral de Jean-Luc Lagarce, não podemos deixar de recordar que são muitas e variadas essas alianças de teatro e cinema, apostadas em dar conta de relações mais ou menos em crise (como agora se diz, disfuncionais). Um exemplo vibrante e perturbante parte de uma peça admirável de Edward Albee — foi em 1966 e dá pelo nome de "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?".
No centro de tudo está a sofisticada arte de representar de Elizabeth Taylor e Richard Burton. Aconteceu três anos depois de "Cleópatra", a superprodução dirigida por Joseph L. Mankiewicz: de símbolo do grande espectáculo, o par transformou-se em impressionante matéria dramática, sob a direcção rigorosa e exemplar por Mike Nichols.
Com Elizabeth Taylor e Richard Burton estavam George Segal e Sandy Dennis, formando um quarteto em que as memórias traumáticas, a dor dos remorsos e algum álcool à mistura se conjugavam para um bailado de confronto e destruição, de fria crueldade e, afinal, também de possível redenção — foi a estreia de Mike Nichols na realização, confirmando o estatuto de prestígio que já tinha enquanto encenador teatral; como se dizia no trailer original, era tudo uma questão de actores.
"Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" teve uma notável performance nos Oscars, ganhando nada mais nada menos que cinco prémios: nas categorias de actriz (Elizabeth Taylor), actriz secundária (Sandy Dennis) e ainda guarda-roupa, direcção artística e fotografia — o caso da fotografia é histórico, já que foi a última vez que a Academia de Hollywood atribuiu um Oscar separado para os filmes a preto e branco; 50 anos depois, tudo mudou, mas "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" permanece como um clássico que superou as marcas da sua própria época.