19 Mai 2016 21:39
Nao sera, por certo, uma manchete capaz de vencer a evidência mediatica das passadeiras vermelhas, mas é um facto: a 69. ediçao do Festival de Cannes ficara como um momento especial de (re)afirmaçao do realismo do cinema da Roménia. Primeiro, tivemos "Siernevada", de Cristin Puiu; agora, foi a vez de "Bacalaureat", de Cristian Mungiu (que, em 2007, com "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias", arrebatou a Palma de Ouro).
Também aqui começamos por deparar com um universo familiar cuja estabilidade esta muito longe de ser coisa segura. Por um lado, Romeu (Adrien Titieni), médico de uma pequena cidade da Transilvania, tenta garantir que a sua filha Eliza (Maria Dragus), consiga um lugar numa universidade britânica; por outro lado, as suas relaçoes, tanto no plano profissional como conjugal, vao arrastar consequências dramaticas…
O mais espantoso no cinema de Mungiu é aquilo que poderiamos chamar a construçao centripeta das suas narrativas: assim, tudo parece concentrar-se num espaço fechado (familiar, antes do mais) que nao vai ser contaminado pelo exterior; a pouco e pouco, a historia vai-se fragmentando de forma perturbante, abrindo-se literalmente para o exterior, em ultima analise expondo as contradiçoes de um tecido social em processo de cruel decomposiçao moral.
Além do mais, sera importante superarmos a eventual estranheza decorrente dos lugares e dos nomes, sublinhando a extrema competencia profissional deste cinema (mesmo se o sentimos executado com meios obviamente austeros). Isto sem esquecer que os actores sao notaveis de contençao e intensidade, reforçando a riqueza humana de filmes como este "Bacalaureat".