24 Jul 2015 21:19
A recente estreia de um filme como "A Criança nº 44", um drama sobre o período estalinista na União Soviética, faz-nos lembrar que, de uma maneira ou de outra, a Revolução de Outubro foi tema de muitas abordagens cinematográficas. Mas não haverá muitos filmes como "Reds". Interpretado e realizado por Warren Beatty, corria o ano de 1981, corresponde a um momento de profundas transformações na produção americana.
"Reds" (à letra: "Vermelhos") é um filme sobre a tomada do poder pelos comunistas, na Rússia de 1917, construído a partir de um olhar exterior, precisamente o olhar da personagem que Warren Beatty interpreta. Ou seja: o jornalista e activista John Reed, autor desse livro lendário que é "Dez Dias que Abalaram o Mundo" — através da experiência singular de Reed, o filme recorda as ilusões e desilusões geradas pelo movimento revolucionário.
A figura de John Reed possui uma dimensão genuinamente épica. Por um lado, ele é alguém que acredita nas virtudes imaculadas da Revolução, sendo, por isso mesmo, uma personalidade essencial para compreender a história das ideias socialistas na sociedade americana; por outro lado, há nele uma ânsia utópica que vai ser dramaticamente confrontada com a realidade muito crua das contradições do jogo político — estamos, afinal, perante um labirinto de ideias e vozes.
Para a história, "Reds" ficou como um filme muito para além das convenções correntes do chamado filme histórico. No seu ano, o Oscar de melhor filme foi para "Momentos de Glória", de Hugh Hudson. Em qualquer caso, "Reds" conseguiu três importantes estatuetas douradas: Vittorio Storaro foi distinguido como autor da melhor fotografia; Maureen Stapleton ganhou na categoria de melhor actriz secundária; e Warren Beatty, tantas vezes tão esquecido como grande cineasta que é, foi consagrado como melhor realizador.