13 Ago 2022 18:26
O filme "Regra 34", terceira longa-metragem da realizadora brasileira Júlia Murat, conquistou o Leopardo de Ouro, prémio máximo do Festival de Cinema de Locarno, anunciou hoje o júri da competição principal, na cerimónia de encerramento.
Com um apelo à defesa da democracia, da diferença e do diálogo, e uma crítica ao "governo fascista" de Jair Bolsonaro, Júlia Murat agradeceu o prémio, recordando que o anterior e único Leopardo de Ouro conquistado por uma longa-metragem do cinema brasileiro data de 1967, quando distinguiu "Terra em Transe", de Glauber Rocha, e o país se encontrava sob ditadura militar (1964-1984).
"Uma ditadura que durou mais 17 anos", recordou Murat, desejando "sinceramente, que tenhamos agora uma história diferente". "Espero que sejamos capazes de parar a loucura deste governo fascista", afirmou Júlia Murat, já distinguida no festival de Berlim pelo filme anterior, "Pendular".
Sem prémios para "Nação Valente", de Carlos Conceição, selecionado para a competição oficial, é assim "Gigi la Legge", do italiano Alessandro Comodin, Prémio Especial do Júri, que de algum modo garante uma presença portuguesa no palmarés principal: o filme teve montagem do realizador João Nicolau, a quem Comodin também dirigiu os agradecimentos.
O maior número de prémios foi porém reunido por "Tengo Sueños Eléctricos", da costa-riquenha Valentina Maurel, com três Leopardos: Melhor Realização, Melhor Atriz (Daniela Marín Navarro) e Melhor Ator (Amien Gutiérrez).
Na competição dedicada a Cineastas do Presente, o Leopardo de Ouro distingiu "Nightsiren", da realizadora eslovaca Tereza Nvotová, enquanto o Prémio Especial do Júri e o Leopardo de Melhor Atriz foram para o filme "How Is Katia?", da cineasta ucraniana Christina Tynkevych, e a sua protagonista, Anastasia Karpenko, que deixaram um apelo pelo seu país: "Rezem pela Ucrânia! ‘Slavia’ Ucrânia!"
Nesta secção, o croata Juraj Lerotic teve o Leopardo de Melhor Realização e o Prémio de Melhor Primeira Obra, por "Safe Place".
Nas curtas-metragens, da secção Pardi di Domani, foram distinguidos o cubano "Soberane", de Wara, e a produção franco-brasileira "Big Bang", de Carlos Segundo.
O Grande Prémio da Semana da Crítica foi para o documentário "The Hamlet Syndrome", de Elwira Niewiera e Piotr Rosolowski, coprodução germano-polaca que levou de novo a Ucrânia para a sessão de encerramento, com a história de uma companhia de Kiev, que tenta montar a tragédia de Shakespeare.
"Stone Turtle", de Ming Jin Woo, da Malásia, venceu o prémio FIPRESCI da Federação Internacional de Críticos de Cinema.
O cinema português esteve representado em Locarno com "Nação Valente", de Carlos Conceição, na competição oficial, e com a estreia extra-competição dos documentários "Onde fica esta rua? Ou sem antes nem depois", de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, e "Objetos de Luz", de Acácio de Almeida.
O realizador Daniel Soares estreou a ‘curta’ "Please make it work", que resultou de uma residência académica no festival.
Foi também estreada em Locarno a longa-metragem "Nossa senhora da loja do chinês", de Ery Claver, produção angolana do coletivo de cinema independente Geração 80.
O júri da competição principal de Locarno – competição internacional – foi composto pelos produtores e realizadores Michel Merkt, Prano Bailey-Bond, Alain Guiraudie, William Horberg e Laura Samani.
A 75.ª edição do Festival de Cinema de Locarno teve início a 3 de agosto e encerra hoje.