

SIRÂT: a grande rave
Óliver Laxe mistura géneros numa tensa procura no deserto marroquino rumo a um pesadelo iminente.
No filme “Sirât”, o realizador Óliver Laxe brinca com os géneros na sua estreia em competição do Festival de Cannes. Filmado em película de 16mm no sul de Marrocos, o trabalho do cineasta franco-espanhol de 43 anos é uma experiência nervosa e sensorial. Tem tanto da fúria pós-apocalíptica de “Mad Max” como da tensão do clássico de Henri-Georges Clouzot “The Wages of Fear”, mas tudo ao som de música techno.
Sergi López interpreta o papel de um pai à procura da filha, adepta de raves. Numa carrinha, com o filho e o cão, embarcam numa viagem em pleno deserto marroquino, ao lado de um grupo de jovens europeus em dificuldades, que atravessam o deserto em veículos precários.
O que começa como uma busca, praticamente sem diálogos, ameaça transformar-se num pesadelo à medida que uma guerra mundial se aproxima e o combustível escasseia.
“O guião é como uma garrafa no mar, é preciso acreditar nele”, disse Sergi López à AFP. “Não sou grande cinéfilo, não tenho muitas referências cinematográficas e não sou grande leitor. Leio muitos guiões e a única coisa em que posso confiar é na minha intuição”, explicou.
López, que tanto filma para realizadores espanhóis como franceses, diz-se “alucinado com o facto de todos eles poderem ser igualmente loucos, mas cada um à sua maneira”. “Há tantos olhares diferentes que não me atrevo a dizer que há um olhar espanhol, ou um olhar francês”, acrescenta.
Quanto ao realizador, confessa ser um fã de raves. “O que também me agrada na cultura rave é a atitude: cair, gemer, chorar, gritar, mas nunca parar de dançar, mesmo que seja o fim do mundo”, resume.
Filme de gestos muito radicais, “Sirât” não convida ao consenso. “Haverá pessoas que ficarão maravilhadas, que apreciarão a liberdade com que fizemos este filme. E haverá outras que não se interessarão, ou que não o compreenderão”, antecipa o cineasta.